domingo, 10 de junho de 2012

À noite vêm os sonhos...


A menina pulava e saltava. Ria e cantava.
Fingia ser uma filha, enquanto era filha. Brincava aos papás e às mamãs com duas pessoas um pouco mais crescidas que ela. Fazia de conta que tinha outros pais, que comíamos amoras e que tinha de ir ás compras.
Vi naquele momento, naquela brincadeira elaborada que ela criava dentro da sua, ainda inocente, mente a sua maneira própria de crescer. De se tornar um dia como a mamã. Grande e sempre pronta a ouvir. Mas seria algo mais... uma maneira de criar um espaço em volta de algo a que ela ainda não compreendia. A sua personalidade e o seu lado feminino.

Deitámos-nos os três na cama, e ela dormia. Controlava o jogo, as falas, as ideias e as opiniões dos papás. Daquelas pessoas que não o eram nem sabiam ser pais. Ela sabia-o bem e por isso... guiava-os, naquela tarefa tão difícil. 

Ficarmos sentados a ver o desenrolar das brincadeiras e dos jogos das crianças, ensina-nos, ou pode ensinar-nos, mostrar-nos coisas que esquecemos, que não percebemos. Que um dia fizemos mas substituímos por outro tipo de brincadeiras e/ou preocupações.
São um mundo mágico, que nos polvilham com encanto e fantasia. Por vezes... abstracta.
Aprende-se a estimular a memória, a desenvolver as relações inter-pessoais, a sua personalidade, os seus gostos e os "não gosto", os medos, fantasias, sonhos e desejos.
São uma esponja tão fértil, que qualquer contacto com um estímulo trará percussões inimagináveis.


A noite vem, e com ela os monstros. O pai abre o livro e a mãe lê. Inventam vozes e gestos horripilantes ou carinhosos perseguidos por sorrisos ou olhos bem abertos e assustadores.
Apesar de serem pequenas histórias, simples e descomplicadas, são autênticas guloseimas de papar e birrar por mais. Pequenas bolachas que fazem os seus pais criar uma ligação com a sua filha sempre pronta a uma nova aventura.
Os cobertores cobrem a sua cara nos momentos mais sombrios, enquanto os seus pequenos olhitos observam as páginas pintadas com desenhos escuros e gatafunhos que só o papá e a mamã entendem. Devem ser língua de ogres ou de bruxas... Este livro parece estar enfeitiçado, mas só naquelas 2 ou 3 páginas!
Lá vai deixando o medo escapar-se por entre os abraços da mãe para saber, uma e outra vez, que a história acabará sempre em bem.

São contos Peter Pan que fazem voar aquela semente adormecida e agarrada ao peluche que protege com a sua própria vida, com tudo... dos seus próprios medos e pesadelos.
A luz de presença iluminará a escuridão e será o fogo dos dragões, protectores da donzela adormecida. Fará brilhar o seu cabelo, e a mais pequena estrela cintilante no céu será ofuscada por tamanha beleza dourada que são os seus cabelos.
A lua já espreita pela janela, lá no alto da escura e estranha noite. Acompanhada de estrelas e cometas, de brilhos que fazem lembrar o bâton da mãe e as conversas com o telescópio no colo do pai.

Dormir não era um problema para ela... pois as grandes aventuras, tinha-as com os seus amigos nos sonhos mais bonitos e mágicos. As histórias de dormir? Eram só a introdução para que a sua mente voasse para "bué-longe" e se aventura-se com os seus desenhos animados mais favoritos, as conversas mais engraçadas e trapalhices que a faziam chorar de tanto rir.

A sua cama... era um palco de descobertas e aventuras.
A sua almofada? Uma caixinha de surpresas e segredos que jamais revelaria a sua verdadeira identidade.
Era um cavalo chamado Dora e sabia falar com todos os animais!
Que criança tão fértil... só podia sair à mãe! Mas que duas...

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