segunda-feira, 30 de julho de 2012

Boa noite amor...


O cheiro da chuva na noite, entra com uma certa aragem pelo vidro entre-aberto do nosso carro. Com as luzes no sentido contrário a focarem-se nos meus olhos cansados, tento-me manter acordado, atento às linhas da estrada que me irão guiar, por alguns minutos, à nossa casa.
Estou sozinho, acompanhado apenas pela música que toca no leitor de CDs, Johann Sebastian Bach Violin Concertos, e penso em ti, zangada por chegar tarde a casa. Zangada por não ter chegado à hora do jantar e ter deitado as miúdas. Aquela casa sem ti... seria um autêntico campo de guerra. Não por culpa minha!
A noite pinta-se de pequenas bolas vermelhas e amarelas, que parecem voar por mim. Os limpa-vidros trabalham devagar, e por aquela visão, o meu cérebro transporta-me para o dia de chuva, um dia belo por sinal, em que me dirigia para a maternidade para te ir ver dar à luz as nossas duas pequeninas. Gémeas, quem diria?! Ainda trago na carteira e na memória aquele momento tão especial de nós os quatro. Foi tão difícil para ti, como para mim, que em quase nada podia ajudar nessa tua luta tão incessante para trazer ao mundo duas meninas lindas e perfeitamente saudáveis, de olhos azuis e cabelos loiros como os teus. Podia ver o brilho dos teus olhos intensificar-se à medida que as vias nos teus braços. Depois de tanto tempo a imaginar e a sonhar como seria, realizas-te o teu e o meu desejo. O desejo de trazer ao mundo um filho. O nosso.

Estaciono o carro à porta, desligo o rádio e verifico se não me esqueço de nada. Agarro com força o molho de chaves para que não faça barulho e seguro a que me abre a porta. Apanho uma pequena molha naqueles poucos metros que me separam da porta de casa, e devagarinho abro-a. Reinava o silêncio. Não se via vivalma por perto, nem mesmo aquelas duas! Olhei para o relógio e passava um pouco das 23:00h. Estava tudo a dormir e eu ainda sem jantar.
Dirigi-me ao quarto da Inês e da Matilde, e muito devagar espreitei pela porta. A Matilde já quase dormia sem lençóis e a Inês tinha voltado a dormir com uma catrefada de bonecos. Tapei a Matilde e dei-lhe um beijo, ao qual gemeu de preguiça. Já a Inês... não largava o urso de peluche por nada!, e antes que começa-se uma guerra que acaba-se mal para o meu lado, tirei tudo o que estava a mais, ajeitei-lhe o cobertor e deixei-lhe também um beijo na testa. Ao vir embora, deslumbrei aquelas duas princesas, tão pequenas mas tão irrequietas. Tu sabes... sempre a perguntar "Porquê?", e nós sempre a tentar responder de maneira a que elas percebam. "Não percebi papá...". Encostei a porta e com pés de pantufa me pus rapidamente à porta do nosso quarto, onde te podia ver dormir sobre o meu lado da cama, agarrada à minha almofada.
Despi a camisa devagar, as calças e aproximei-me da cama. Inclinei-me sobre a tua cara e beijei-te a bochecha. Meia dorminhoca acordas-te, passas-te a mão pela cara e olhas-te-me.
-- Boa noite amor... -- sussurei com um ligeiro sorriso.
-- Anda, deita-te, estou com frio! -- respondes-te, sem qualquer ralhete ou cara de zangada à mistura. Agarraste-me pela mão, viraste-te de costas para mim e puxaste-me. Devagar entrei na cama, tapei-nos e abracei-te por trás. Senti o teu aroma, as curvas do teu corpo, os caracóis do teu cabelo passaram dançando sobre o meu rosto e perfumaram-me a mente de emoções e desejos. Entrelaças-te as pernas nas minhas e até a minha alma se enregelou de tão frios que estavam os teus pés. Beijei-te as costas, fiz-lhe uma pequena massagem e abracei-me, embrulhando-me em ti e no teu corpo. Senti os teus peitos, passeia a mão pela barriga e ai a deixei ficar. Breves segundos depois, puxas-te-a mais para cima, depositando-a sobre o teu peito.
O som dos cobertores cessou, e ao fim de alguns minutos, nada, a não ser a tua respiração, podia ser ouvido. Fosse eu louco e até podia ouvir o tic-tac do despertador digital.
-- Adoro-te. -- disseste antes de adormecer.

Fiquei de olhos abertos explorando a escuridão do nosso quarto, até que o sono caiu sobre mim. Já não sabia se tinha os olhos abertos ou fechados, mas abraçado a ti, perfumado pelo teu cheiro e hipnotizado pelas tuas curvas, deixei-me desligar lentamente, presenteado por pensamentos e sentimentos que ainda hoje me fazem um homem feliz. Contigo ao meu lado, o meu coração volta a aquecer da tristeza que é afastar-me de ti e dos teus lábios, das tuas mãos e dos teus abraços que me seguram e me acarinham quando mais preciso de ti.
-- Boa noite amor...

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