domingo, 29 de dezembro de 2013

A escuridão do teu olhar...

[*** by Tarasov]


Tenho ouvido os teus gritos toda a minha vida. Como uma faca afiada voando bêbeda por todo o meu corpo. Tenho um trago esquisito na boca que se intensifica cada vez que me beijas, e um desconforto calafrio por todas as vezes que me obrigas a ajoelhar. As chapadas que me cortam a cara, soltam do teu corpo a raiva de um ser anormal e grotesco.

A carrinha parou em frente à escola e corri para junto dos meus amigos para jogar à bola. Estava muito sol e algumas nuvens no céu. A brincadeira prolongava-se como uma festa de anos repleta de bolos, até que um deles se entusiasmou e fez a bola cair do outro lado do portão, que me aprontei a abrir. A saia rodopiava com a velocidade e a minha alegria lia-se no rosto. Agarrei na bola e vi um senhor com uma cara simpática a querer oferecer-me um doce. Aceitei, gulosa. Disse-me para não contar a mais ninguém se não tiravam-me o doce e concenti. Com os dois braços, atirou a bola de novo para o recinto da escola e fez-me ficar muito caladinha com um "chio". Agarrou-me na mão levando-me até ao carro onde me deu um peluche. Colocou-me o cinto e levou-me até minha casa. A mamã e o papá eram muito amigos dele e tinham andado a preparar-me uma surpresa.

Com uma mão agarrou-me no cabelo e com a outra numa perna. Gritei e atirou-me contra a parede. Com uma agonia aguda no joelho, que dobrava tanto como uma dobradiça enferrujada, tentei levantar-me, fugir de um quarto sem fuga, de uma prisão que se tornava em cada esbracejo e agonia, no meu próprio túmulo. Arrastava-me pelo chão frio, enquanto as suas mãos me agarravam nos tornozelos como tentáculos de polvo, acorrentando-me para sempre ao som que me roubaria a liberdade.
Como um urso, agarrou-me no pescoço e obrigou-me a levantar do chão para me sentar numa cama feita de lençóis que me picavam as pernas. Com força que não podia igualar, enforcou-me o pescoço na almofada e enfiou a mão gorda por baixo da saia. Os meus gritos ecoavam nos meus ouvidos, fazendo-me consciencializar de que nem um simples grito de puro sofrimento, um guincho, escapariam daquele mundo cinzento ao qual não queria pertencer.

A escuridão do teu olhar, continua a rasgar-me a alma, violação após violação, como um animal no cio, sedento de sexo, incapaz de amar. Quero voltar para os meus papás... quero abraçar a minha mamã e nunca mais a largar. Não quero voltar para a escola, não quero sair de casa, não quero sair do meu quarto.

Solte-me. Deixe-me ir, por favor. Quero sorrir!
Eu prometo que não conto a ninguém...

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terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Perdoo-me...


-- Porque dizes essas coisas!? O que foi que eu disse para reagires dessa maneira comigo?
-- Esperavas um príncipe!? Não o sou! Criar expectativas faz mal Inês...
-- Parvo! Fiz-te algum mal?
-- Não te armes em frágil comigo, está bem?

Parei, enquanto os pés dele marcavam o chão macio e húmido. Apesar do seu peso e altura, a maré apagava-lhes o rasto. Sem nunca olhar para trás, voltou de novo de onde tinha-mos vindo. Onde tinha eu a cabeça quando imaginei um mundo com ele?! Se a minha amiga Francisca estivesse aqui a ouvir-me fazer essa pergunta ou um par de garotos ranhosos, a resposta seria imediata! -- "Entre as pernas dele!".
Não foi a vida que me abriu os olhos neste momento, foi o interior dele, do Ricardo, que conseguiu passar a mensagem cá para fora: -- "Eu não sou aquilo que procuras e só irás sair ainda mais magoada se a relação continuar." Nunca o ouvi dizer tais palavras e muito menos o podia ver nos seus olhos, mas se nós mulheres somos boas numa coisa, é em memória! E cada pedaço de gesto que ele fez diante de mim, quer por mim ou para mim, fizeram-me perceber que algo dentro dele dizia que eu, mais tarde ou mais cedo, seria magoada.
Como fui capaz de ser tão pita!? Tão imatura e inconsciente!? Já nada tem valor ou valorizei demais? Que cega... Óh Inês? Ainda vives no mundo da fantasia?

O mar lavou-me os pés e olhei o horizonte. Abracei-me pelo frio e pela tristeza, em que me afundava entre os cabelos ao vento. Desci o olhar sobre os meus pés e tentei ver, entre um nevoeiro que descia a praia, um puto imaturo que fazia de mim a sua "menina" parva e sonsa.

O próximo rapaz que encontrar, terá de me fazer crescer. Terá de ter vontade de aprender e de ensinar. Não posso esperar tornar-me numa mulher só porque pura e simplesmente cresço velha ao lado de um rapaz que me diz amar. Não posso esperar que o tempo me dê um par de filhos ou que o "nosso" ambiente familiar se transforme com o tempo na paz que li e que me vendem em histórias, em novelas ou nos filmes. Não me posso permitir ser fraca a esse ponto. Não sou uma borboleta à espera de um borboleto que me construa um casulo e me ame para sempre. Sou um ser humano à procura da ligação que dê menos faíscas. Espero demasiado, dou demasiado e esqueço-me de mim com a mesma facilidade com que esqueço a matéria da 4ª classe. Será o meu eu a tentar esconder e esquecer o carinho que não é correspondido? Era suposto ensinar-me e não fazer-me apaixonar sempre pelo mesmo tipo de criança imatura que se acha sempre responsável e confiante. Dessa perspectiva, tem parte da vida feita, mas a vida é como um jogo? Não acho que seja muito saudável deixar para trás etapas importantes, como a humildade. Há coisas que não nos devem ser ensinadas pelos outros. Temos de ser nós, para dar valor.

Perdoo-me a mim mesma por ter acreditado numa relação que não entendia, com um rapaz que não conhecia. Perdoo-me pela falta de experiência por não saber guiar a minha relação para o caminho que nos trará bons frutos. Perdoo-me pelos ciumes e atitudes que levaram o melhor de mim e me fizeram agir de maneira negativa sem qualquer valor evolutivo ou educativo. Perdoo-me por aceitar uma relação para o qual ainda não estou preparada. Perdoo-me por me sentir culpada por algo que não fui capaz de ver e antecipar.

Chorar não é errado, apenas o que não fazes com aquilo que ele representa. Uma tristeza não é apenas um sentimento emocional criado momentaneamente pelo cérebro, é um conforto físico que se apoia em memórias, para nos fazer consciencializar a razão de algo negativo. Serve para nos fazer crescer. É o método que o próprio cérebro possui para se auto-instruir e evitar no futuro.

domingo, 15 de dezembro de 2013

No limite da imaginação...



Cada passo me aproximava mais da entrada guardada por dois vultos encapuçados. O chão liso reflectia a minha figura de forma desfocada e o vidro fosco pintava-se de branco. O corredor pintado de leite, apertava-se sobre mim, pesando nos ombros como um arrependimento agudo. A consciência ficava para trás, deixando-me em piloto automático, incapaz de delinear uma ideia sobre o que estivesse no fim daquela caminhada iluminada. Era quase como se o mundo termina-se naquele rectângulo impenetrável pela minha mente, e me fizesse entrar numa dimensão irreconhecível por todos os sentidos evolutivos que me trouxeram até aqui. Sentia em mim mesmo, a estranha sensação de que o que quer que eu fosse, de onde quer que eu tenha vindo, a evolução de uma espécie, não faria o menor sentido ali dentro. Como um caracol que rasteja pelo chão sem nunca vir a saber onde se encontra.
Os vultos, rapidamente se confundiam com o preto pesado dentro daquele hall de entrada, desaparecendo por completo a já escassos metros, acabando por serem trocados pelo som forte de chuva a cair. Nos vidros bateu uma rajada de vento, seguido de um grande tufão. Perante uma fuga irracional que fervilhava sobre os meus pés e pernas, olhei o interior receando o desconhecido. A violência no exterior, para lá das janelas que escondiam o perigo sem rosto, entrava tocando os trovões pelas minhas costas, fazendo desenhar na minha imaginação um comboio em rota de colisão. O corredor tornou-se cinzento, as suas paredes racharam em fissuras sugerindo tijolos velhos que acabariam por desaparecer numa escuridão infinita, sem tecto ou chão. A parede à minha frente, levemente como o bater de asas de uma borboleta, transformou-se num céu estrelado, aproximando-se depressa de uma grande nuvem dourada de pós de estrelas.
Um arrepio cerebral efervesceu no meu peito, deslumbrou-me a mente. Fascinou-me. Conquistei o espaço em volta com o meu olhar e percebi então o segredo daquele quarto misterioso no momento em que os dois vultos voltaram a aparecer diante de mim.
-- Não posso fazer mal, pois eu não sei o que é. A vida é apenas uma visão. Um sonho... Nada existe. Um espaço vazio, e tu... não passas de um pensamento.
-- Bem vindo à fronteira. Aqui começa o que o teu pensamento se torna incapaz de ver. O universo é infinito enquanto o teu pensamento o conseguir visualizar e lhe der um significado.

Somos um intervalo no tempo que não avança e o espaço que não existe.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Evoluímos ou Evoluímos-nos?



Quem trabalha e faz trabalhos com madeira, costuma dizer que a madeira dará o objecto para o qual nasceu para ser.

Nesta pequena curta-metragem, um objecto de madeira com características humanizadas, cria um retrato do seu oposto.
O ponto importante neste pequeno filme, não é apenas o facto de ensinar de uma forma muita fácil e transparente, que não devemos mudar ou moldar à força quem amamos, mas sim também, a razão de um objecto criado "humano" ser capaz de criar através da sua imaginação, sonhos e fantasias, o seu oposto. Um oposto que nunca viu e que nunca conheceu.
É então razão para dizer e constatar, que apesar de nunca termos visto algo, não quer dizer que não exista ou que não possa ser inventado. Mas isso significa que a ideia "abstracta", foi-nos implantada através de "poder divino", ou foi algo que realmente teve origem nas profundezas da nossa mente?
Sendo todos os animais capazes de sonhar, de recordar, de reconhecer e se adaptar, mesmo que apenas psicologicamente, significa que são também eles criadores de ideias abstractas? De dar origem na sua mente, no céu cérebro consciente, imagens que nunca viram?

Existe uma espécie de macacos, capaz de criar/inventar, desenvolver e aperfeiçoar ferramentas. Mas segundo os cientistas, têm dificuldade em passar à geração seguinte essa informação. Será, porém, que a sua capacidade "única" de transpor fisicamente uma ideia inexistente na matéria do cosmos, ser de origem divina e não através de um processo evolutivo no qual teve origem, não só o seu instinto de sobrevivência que obrigou a desenvolver planos de fuga ou de conseguir visualizar antecipadamente a sua rota de fuga, mas também em tornar eficaz uma tarefa? Como comer ou correr?
Não é no fundo, no fim e ao cabo, a evolução, uma construção, degrau a degrau de inovações? De uma melhor capacidade de previsão de uma acção, como por exemplo do tempo ou de um trajecto de fuga entre uma densa floresta?
Não é também uma evolução psicológica e emocional de ideias e pensamentos? Que de geração em geração se tornam mais nítidas e fáceis de compreender?
Significa então que é o nosso cérebro que nos adapta? Que não é a exigência do ambiente mas a capacidade que todos os seres vivos são capazes de objectivar, planificar e criar do nada, uma solução e/ou uma alternativa para aquilo que vêm?

Colour is in the eye of the beholder
Horizon - Do You See What I See (Part 1)
Horizon - Do You See What I See (Part 2)
Horizon - Do You See What I See (Part 3)
Horizon - Do You See What I See (Part 4)

Segundo o documentário "Do You See What I See" produzido pela BBC Horizon, as cores que o nosso cérebro consegue ver, encontram-se ligadas ao nosso vocabulário. Quanto mais nomes formos capazes de dar a cada cor, melhor será a sua visualização.
Comprovando que não é o ambiente que nos evolui, mas a mente.

Sendo então a resposta a uma pergunta que nunca foi feita e que por essa razão não existe:
Só somos de capazes de manipular o que nos rodeia, quando formos capazes de o entender? Quando consciencializarmos intrinsecamente que uma pedra não é só uma pedra, mas uma ferramenta de caça?
Que um conjunto delas não servirão apenas para enterrar os mortos, mas também para edificar um abrigo contra o vento, a chuva e o frio?
Só avançamos na árvore da evolução, quando na nossa mente der algum tipo de "clique"?

Explicar psicologicamente, a capacidade que este objecto humanizado teve para criar alguém seu semelhante, torna-se difícil, a partir do momento em que tento perceber de onde e como surgem os meus sonhos, principalmente aqueles que nunca vivi. Isso não é capacidade de projectar um pensamento no futuro, é algo muito mais.

Se mudar alguém não deve ser um objectivo da cara metade, melhorá-la não será a mesma coisa? E se então não há maneira de duas pessoas interagirem de forma positiva, isso impõe duas questões.
A alma gémea não se tornará com o tempo, um aborrecimento? Porque, se gostam de "tudo" e fazem "tudo". Esse entusiasmo e todas essas experiências têm uma razão para existir? Não evoluímos através da partilha de informação e da educação dos iliterados?
Como poderão duas pessoas conviveram se a maneira como vêm e sentem o mundo não pode ser aproximada através de um melhoramento da psicologia do outro? Se não há partilha, se as arestas não são limas, como poderão duas peças coe-existir? Não está em causa a leia da atracção, mas a capacidade emocional, mais do que psicológica, de suavizar as nossas decisões, ideias e opiniões.
Mas... significa então que deixaríamos de ser nós mesmos, apenas e só para um "bem maior"? E neste caso, o que está em casa? A sobrevivência da espécie ou uma escolha emocionalmente egocêntrica e instintivamente social?

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Adoro ouvir-te, ver-te e cheirar-te...

A casa espaçosa, vazia do som do meu mundo, iluminava-se pelas estrelas que pintavam o negro manto da solidão. A calma pairava no ar, sentindo-se como um sussurro partilhado entre dois predadores, à espera do momento certo para atacar. Através da ampla janela, via a fúria do vento dobrar as árvores do outro lado do rio. O vento levar com força a água e levantar no ar as folhas mortas. De vermelho, surgia a lua, entre nuvens que rompiam o céu com trovões longínquos, gritando pelo ar o seu rugido tenebroso. Um som arrepiante que nos fez enraizar na espinha, os nervos que nos fazem tremer de medo.

Do outro lado da sala, lá fora, onde a chuva começava a arranhar a porta, ouvi o carro dela chegar, como o ronronar de um gato que não desiste de colo. Como uma prenda de natal que se esconde debaixo da árvore ou numa gaveta antiga, à espera do seu momento. Na minha barriga senti as borboletas. Continuo a ser o homem que vibra cada vez que entras numa sala. Cada vez que sorris para mim, me beijas, abraças, ou agarras na Joana como se fosse um avião. Cada vez que vos vejo brincar, é como se voltasse à casa da criança, sentindo inveja por não ser eu a ter aquele brinquedo ou a brincar com aquela menina.
Entraste em casa, e como todos os dias, penduraste o casaco. Com um puxo apanhaste o cabelo e tiraste os sapatos à miúda reguila.
Percorreste a sala em direcção à cozinha, e num piscar de olhos, o teu corpo parou, tornou-se pálido. Um arrepio desceu-te pela espinha como uma faca afiada. À tua frente, estava eu. Com um grande sorriso na cara e uma lâmina prateada na mão. Da escuridão que te enegrecia a mente, só conseguias ver os meus olhos, por baixo da máscara de carnaval.
-- Boa noite amor... -- recebi-te.
A tua expressão facial era orgásmica! Cada músculo parecia contorcer-se de medo, enquanto o pestanejar desaparecia com o meu aproximar calmo e sereno.
-- Joana! -- gritaste esganiçadamente, correndo pela casa como uma galinha sem cabeça, à procura da tua pintainha. Os teus pés ecoavam pelo soalho, num murmúrio que exteriorizava aflição. Presegui-te então como um fantasma de uma casa assombrada, fazendo sentir a minha presença através das botas pesadas pelas escadas acima. Os teus gritos vibravam nos meus ouvidos, uma melodia harmoniosa que se abraçava ao choro do teu passarinho escondido entre os teus braços tão sexys.

A tua aflição acalma-me e a tua filha excita-me...



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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O caranguejo que viu o mundo morrer...



No horizonte, subia sozinho lentamente entre nuvens no céu azul, um Sol como nunca antes tinha nascido. A manhã escura, naquela praia invadida por pedras negras, iluminou lentamente a conquista que a natureza construía em cada buraco e saliência do paredão natural.
A maré subia com a luz, vagarosamente, em silêncio. Não se ouvia o vento nem a natureza, as aves ou as árvores. Por entre o rebentar das ondas, sentia-se o vazio do planeta. Não havia criaturas por perto para testemunhar o silêncio, se não o único caranguejo laranja que surgia inesperadamente debaixo de uma das pedras submersas pela água.

Subia a costa de lado, e ao chegar a terra seca, virou-se de frente para a grande pirâmide que ainda bloqueava o Sol. As cores no céu, antecipavam uma dança sombria. A morte do mundo. A morte das coisas, do calor, dos amigos e dos inimigos, do vento e da chuva. Sem qualquer forma de saber explicar, sentiu dentro de si o fim. Invadira-o como uma calma, um pensamento vazio, um odor agradável e um conforto caloroso. Hoje, será o ultimo dia que verá o Sol. Será o fim da pesca e das caminhadas, será a extinção inaudível da árvore da vida.

A água tocou-lhe os olhos e a onda puxou-o com ela. Deixou-se levar, envolto no cobertor transparente que espelhava a ultima viajem das nuvens. A escuridão abateu-se sobre ele, sentindo-se esquecido numa morte fulminante das cores, voltando então a ser recebido em êxtase pelo círculo milagroso da origem da vida. O calor apertava-lhe a carapaça e afundou-se, descendo ao fundo do oceano que o germinou. Ao fundo que levaria de volta, por direito, as carcaças de uma enorme evolução natural.
E sendo Nak, fruto da imaginação de um humano, ao interiorizar o fim de tudo, choraria com medo do seu desaparecer invisível, da calma com que se tornaria mais um na grande extinção à escala global. Porque estar sozinho, no fim, seria uma das maiores dádivas merecidas por todo o valor que nunca trouxe ao mundo. Mas saberia reconhecer! Porque deslumbrar o ultimo dia do universo, sentir o ultimo raio de luz entrar nos seus olhos e logo depois a escuridão gelada que nunca foi capaz de imaginar, faziam-no, não um humano de consciência, mas um animal que no fim dos seus dias, sentiu o seu fim.

Numa viajem até às profundezas do oceano que o viu nascer, fugiu assim ao contar das horas, dos minutos e dos segundos que lhe levariam os sonhos e as memórias.
Lá em cima, onde o Sol subia os céus, e cada molécula podia vibrar com vida, surgia já velha a escuridão, pesando em cada piscar de olhos, os fardos perdoados. O pano do teatro do pó das estrelas, fechava-se assim, no esquecimento gélido pintado pelas galáxias longínquas.


É na morte, que a natureza ressuscita...

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O que és tu para ti mesmo?


Calquei o chão, negro, morto. Respirei fundo e senti uma calma apoderar-se dos meus ossos, levando-me ao chão como uma tragédia retirada de uma opera. Uma leve brisa passou pelo meu corpo, entre cada pêlo dos meus braços, no pescoço transpirado e carinhosamente entre as orelhas. A frescura que me enchia os pulmões, desceu pelas pernas como um banho de seda. Senti-o mais frio nos joelhos acabando por desaparecer entre os dedos dos pés que se descalçavam do cansaço entre a terra húmida revirada.

Sozinho, enfiado num buraco empestado de morte, pintado de uma depressão que não queria ver e viver. Rodeado por um vazio infinito, de betão e destruição. Levantei os olhos, pintados pelo choro do medo de para sempre ficar aprisionado e inspirei. Os olhos fecharam sem força e o cobertor negro caiu sobre mim, aquecendo cada parte do meu corpo com o esquecimento da nudez que me vestia. Deixei-me por momentos desligar daquele lugar maldito e quando abri por fim os olhos, re-encontrei-me numa floresta colorida, que se despia num tom amarelo e vermelho, através de folhas que dançavam em direcção ao chão.
Ergui-me, semeando com as mãos a terra que agarrava com força. Entre os dedos sujos senti um gelo trepar, provocando-me um arrepio pela espinha abaixo. Com alguma força, a criatura agarrou-me uma mão, com mais força a outra. Com o medo a afogar-me numa arfar intenso, olhei com coragem que não tinha para o meu lado esquerdo e encontrei pequeno, uma menina de cabelos encaracolados, de olhos grandes e com um grande sorriso no rosto. Segurou-me melhor, e senti algo respirar ao meu ouvido. Uma mulher, alta, magra, nua tal como eu. Com um sorriso ligeiro e doce, aproximou-se da minha cara sem nunca desviar o olhar dos meus e beijou-me como se aceitasse a morte entrar no seu corpo.

As duas olharam em frente, para o interior de uma floresta que escurecia até ao horizonte, e da mesma forma que me arrastara até àquele ponto, arrastaram-me elas até à escuridão do desconhecido que temia com tudo o que me tornava eu em mim mesmo.

Tudo o que julgas saber, faz parte de um jogo que criaste na tua cabeça. Tudo o que sentes em cada momento, é como uma pista que te faz esquecer as regras. Porque tudo o que te faz cair tem a mesma força daquilo que te ajuda a levantar. Porque tudo o que construíste "por ti", é apenas um conto de fadas do qual não queres que a história acabe. Foi no momento que nasceste que a tua mãe perdeu o seu mártir e fez de ti o seu "mais que tudo", levando-te na garganta, propagando os teus feitos como um sermão, como uma doutrina e uma religião que seguirá até ao dia do seu momento final. Farás então um esforço para que a cruz não te persiga e o seu peso não se faça notar na tua cara mas na tua mente "tão matura". E o dinheiro que poupas tão religiosamente, servirá para pagar à voz de Judas, que te assombre a mente todos os dias, para o resto da tua vida, sobre tudo o que não te orgulhas. Um jogo psicológico, no qual jogas apenas tu, sem controlo, e que, sem saberes, saltitas para a destruição de ti mesmo. Tu corres para a partida e não para a meta.

Abre os olhos. Estás a errar e ainda não te deste conta...

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Medo...

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Medo...


Um som oco surgiu na janela, muito ténue, como o caminhar da mamã na cozinha. Ouvi-o de novo, mais forte, acompanhado por um sombra indistinta no cortinado. Cautelosa, agarrei-o, e muito devagarinho afastei o muro bege, enfeitado com flores rendadas, dos meus olhos curiosos. Uma passarinho cinzento, debatia-se para entrar. Aproximei-me para o ver melhor e parou de bater as asas. Olhou para mim e piou. Piou novamente. Senti um pedido no seu piar e na forma de como batia no vidro. Abri a janela e ele saltitou para o parapeito interior. Afastei-me de imediato, com um medo que desconhecia. Desejava tocar-lhe e abraça-lo, mas tinha medo que me picasse.

Tenho um medo irrealista de coisas que me impedem de evoluir, de crescer e amadurecer. Medo e "pavor" de pequenas coisas que exprimidas não saem nada. É um medo de saltar a pequena poça e ficar com receio de que quando chego à outra ponta, cair e molhar. Medo de me ridicularizar, tornar-me num alvo de gozo ou de assalto. Uma variável imutável, constante, que só posso mudar a cada passo que ganho confiança no mundo, para além de mim mesmo. Porque o que me impede de ser um herói, é a violência que não controlo, que destrói o mundo e corrompe as pessoas.

Não estou em Auschwitz, mas às vezes pareço caminhar para as câmaras de gaz.

domingo, 27 de outubro de 2013

Descobri o som que me acalma...



Liguei a torneira da água quente e temperei com a fria. Devagar deixei o meu cabelo molhar-se e o meu corpo cobrir-se por uma fina camada de aconchego. Uma massagem à muito esperada. Coloquei o cabelo para trás, fora da minha cara e tapei os ouvidos, e fechei os olhos. Comecei a ouvir a chuva e o som de forte que parecia um comboio pesado a aproximar-se. Como um gutural vibrante. Um silêncio vindo do espaço.

Descobri o som que me acalma... um som da chuva que se mistura com o correr do sangue nas minhas orelhas. Uma concha que me canta o som do abraço mais reconfortante, que me torna melancólico. Nesse momento tão único, o meu cérebro tem tempo para pensar, ser e observar o mundo que tendo em esquecer na escuridão e profundeza do meu ser.

Fecha os olhos e ouve...

domingo, 20 de outubro de 2013

Às vezes esqueces-te...



Olhou para ele, observando nostalgicamente, como gotas que batem em janelas, uma lágrima que percorria os contornos da sua cara, sentiu um calor no peito e as mãos frias.
-- Eu sou tu nos teus dias mais tristes, e tu és eu, nos meus dias mais felizes. Não preciso de dor para sofrer e não preciso de sorrir para ser feliz. Basta ouvir a tua voz junto ao meu ouvido, sentir as tuas mãos tocarem-me a cara e os teus olhos conquistarem os meus com o tempo. É um amor que me faz esquecer a dor de não te ter. Sonhos e desejos que me aquecem à noite, aprisionando-me por vezes em sonhos abafadores, tristes, repletos de amargura e desafios impossíveis. Vejo-te em cada cor de cabelo, cada caminhar confiante e esfolhar de livros. Estás em todo o lado, mas é a tua voz que denuncia o sócia do teu eu que me entristece, me enraiva e me faz amar-te.
-- Os teus dias mais tristes, Cátia, são os meus dias mais felizes. -- ela olhou para ele, estranha, sem conseguir perceber o que queria dizer. Ele era feliz por saber que ela estava infeliz? Gostava de a ver sofrer? -- São os mais felizes, porque finalmente desces dessa tua grandeza e partilhas comigo uma dor que não me quer largar a mão. Tornas-te mais carente, tristonha e eu embalo-me contigo num carinho mútuo. Olhas-me nos olhos, agarras-me as mãos e beijas-me sem pensar. Fazes-me feliz nos teus dias mais tristes, porque deixas de ser a Cátia e o teu Eu, para passares a ser a consciência instintiva e emocional que esqueces que existe na tua vida e na dos outros. Relembras-te de quem sou e do que faço na tua vida, que achas ser tão perfeita. Uma vida imperfeita que eu ajudo ao limar as pontas da tua rabugice, intolerância ou falta de paciência.

Firme como uma estátua, com os seu par de olhos acastanhados fixos nos do seu namorado, Cátia manteve-se calada. A voz do rapaz entrava-lhe com toda a sabedoria, quase como um poema que explicava o mundo. Tremeu com um arrepio na espinha. Os cabelos eriçaram-se e ficara surda por um momento, sem nunca deixar de ver a face simpática daquele que a comprava através do dom da palavra. Ouviu as ondas do mar perto de si e os sinos tocarem ao fundo. As gargalhadas de crianças seguiram-se como um comboio que se aproximava, tornando-se, no fim, no som da chuva que batia na sua janela. Olhou-a de olhos pesados. As emoções escorriam pelo vidro, aprisionando-se num grito cheio de força de vontade, mas sem poder para fazerem a diferença. Tal como as palavras que se agarravam às papilas gustativas, arrastando uma voz roca e fraca, tal como as fracas palavras que não pensava em dizer.

-- Esqueci-me do quão bonito és...
-- E do quão bonita te tornas...
-- Do calor que me provocas no peito...
-- E na fraqueza que sinto ao respirar...
-- Dos lábios molhados...
-- E nas palavras doces ao teu ouvido...

Cátia sentiu as pernas pesadas. As mãos carentes tocaram a própria cara e ajeitaram o cabelo. Ele sabia que estava submissa, cansada, necessitada e caminhou calmamente para junto daquela rapariga calada, tranquila à janela. Sentou-se, olhou-a e com um sorriso de compreensão, de persistência, levou, com alguns dedos, uma madeixa à frente da cara dela para trás da orelha. Tocou-lhe a cara e de olhos apaixonados nos dela, beijou-a no momento oportuno. Cátia soltou uma lágrima. A chuva lá fora tinha finalmente conquistado. Vim, Vivi, Venci.


A única imagem que faz sentido de pernas para o ar, é a do universo.

sábado, 12 de outubro de 2013

Tu és a Malala, e devias deixar de ser criança...




Vi este texto no facebook, e li o artigo. Vi o video e fechei a aba um pouco confuso sobre o que tinha acabado de ver. Ao fim do dia, enquanto esperava que o sono viesse, o meu cérebro atirou-me de novo com a "noticia" sensacionalista que tinha lido durante o dia, e percebi.

Jovem, Malala, "terroristas" não querem saber se defendes a educação dos filhos deles. Estás errada em todos os sentidos, e pior ainda, fazem de ti e da tua "história" noticia. Precisas de crescer primeiro, antes de achares que atirar um sapato é melhor do que fugir ou acabar com a violência usando a violência. Precisas de ir às aulas de história, para perceber que o mundo não se fez só de abraços e de trocas comerciais, foi também através da conquista, de tortura, de guerras e genocídios. Dá uma vista de olhos a este video: "Map of Europe 1000 AD to Present" ou ainda este: "Europe/Middle East from 1000AD to the 2000".

Quando perceberes que assassinos estão na cadeia por uma razão, irás perceber a razão de haver guerrilhas no teu país. As pessoas que te "perseguem" não são formadas! Não andaram numa universidade, numa escola, ou numa instituição religiosa. Andaram nas terras, a brincar dentro e fora de casa a ver tudo o que lhes pertencia, ser roubado. São pessoas com ideais diferentes dos teus, e muito próximos dos de Hitler. Dominar o seu país e o mundo. Se lesses mais artigos na internet, e focasses a tua atenção em temáticas sobre a história do mundo, quer antigo, quer actual, irias ler e "aprender", que os países árabes nunca tiveram uma verdadeira "revolução" no seu país. Nunca foram países de conquistar outros países, como o foram a Alemanha, Roma, Grécia, Portugal, Espanha, Inglaterra e França. Perceberias que uma guerra no médio-oriente é eminente, pela simples razão de os seus povos começarem a desenterrarem-se das cinzas e poeira com o qual foram pisados pelos templários que tanto sangue e morte levaram às suas terras. Os próprios Espanhóis e Portugueses, apesar de não estarem em guerra e de exportarem e importarem muito dentro da Peninsula-Ibérica, não são um povo que se deixaria absorver pelo outro. Jamais se unificariam. E a razão!? Porque os nossos antepassados lutaram muito para podermos ter um país como o que temos hoje. Porque a história da Europa foi criada sobre constantes lutas, guerras e conquistas, quer por terra, quer por mar. Nenhum país no seu perfeito juízo cederia o seu território para criar um único país, sobre um único "rei". A razão de a "União Europeia" ter sido criada pela França, foi única e exclusivamente para que a Alemanha não voltasse a entrar em guerra com os restantes países da Europa.

Tu és a Malala, e devias deixar de ser criança... devias deixar de acreditar que podes mudar o mundo. Um mundo criado sobre sistemas de droga, guerra e políticas de monopólios que nunca conseguirás derrubar com: "Eu apoio a educação dos teus filhos, senhor-que-me-quer-matar.". Já fui como tu, em que acreditava que podia mudar o mundo. Mas não podes, não da maneira como estás a tentar fazer. Já muitos tentaram e nunca conseguiram. Eis um exemplo mundialmente conhecido: "A garota que calou o mundo por 6 minutos".
De certa forma, o problema nem é o facto de usares as mesmas ideias que Jesus Cristo copiou de culturas antigas, mas o facto de em países "civilizados" e "desenvolvidos", criar uma sociedade com educação, mentalidades, ideias e opiniões fracas, descontroladas, revoltadas ou emocionalmente fáceis de manipular. São sociedades americanizadas, sem qualquer tipo de civismo ou intelectualidade. Se queres mudar o "mundo", tens de mudar os pensamentos daqueles que levaram para o teu país, a tecnologia que os teus co-cidadãos não souberam construir e/ou desenvolver.

Da próxima vez não lances um livro, lança uma posta de pescada. Acredita, faz mais efeito do que atirar um sapato. Ainda não sabes? A crise na Europa começou porque um "analista" americano disse qualquer coisa, num programa qualquer de economia, de que a Europa estava a entrar em receção. A verdade é que também a China o está e não vês ninguém falar disso. Faltou a posta de pescada...

O que eu mais gosto...

[Maks N by ~Anhen]

O que eu mais gosto, depois do banho ou ao fim do dia, é despir a camisa e olhar o meu corpo pálido no espelho. Sentir o cabelo comprido sobre os meus ombros, as minhas costas e os meus braços, quase como se "a" namorada me abraçasse por trás, com vontade de andar às cavalitas. De observar as costelas que se sobressaem como teclas, de ver o peito encher-se de ar.
De vestir a camisa e dobrar as mangas, as calças, os sapatos e sair à rua, numa tentativa de atrair o olhar de alguma rapariga, ou de a assustar com o meu cabelo que, parece agradar mais as mulheres que os homens. Talvez nem seja "nojo" ou "confusão", mas inveja. Porque o meu cabelo comprido e "bonito", Transforma a minha cara, o meu corpo, dá vida aos meus olhos, aos meus lábios ou ao meu corpo. Gosto da transformação "drástica" que este longo pedaço de queratina é capaz de criar à minha volta. De me tornar mais novo com um simples aparo da barba, ou de me tornar num desleixado com a roupa que não me assenta tão bem. Ou de aparecer bonito, ou até "charmoso", e sentir-me bem. De levar as mãos ao cabelo, ou de olhar para elas com alguma vergonha.

O que eu mais gosto em mim... é a minha capacidade de surpreender, de tornar irresistível ou bonito, o que parece ser "só mais um" ou um rapaz "normal".


Não é o facto de eu não ser igual aos outros, é precisamente por eu ser diferente deles.

domingo, 29 de setembro de 2013

Um momento para mais tarde recordar... [2]



Ergueste-te e endireitaste o corpo despido. Ajeitaste a Carolina junto ao teu seio e percorreste o soalho de madeira até à cadeira de baloiçar da tua avó. Sentaste-te. Beijaste-a na testa e deixaste que te segurasse no indicador. A força dela percorria-te o dedo como um arrepio na espinha. Observei-vos com ternura, testemunhando uma das primeiras interacções entre mãe e filha, o primeiro laço de intimidade que os "homens nunca irão perceber".
A tua a pele branca ao sol, fazia exteriorizar em brilho o interior doce, rejuvenescido, que se alimentava da beleza platónica da nossa semente que com tanto carinho seguravas nos braços. Era capaz de te ver nos olhos, a ansiedade de a veres tornar-se uma pequena mulherzinha, comprares-lhe o primeiro soutien e aconcelhá-la nos namoros. Ouvi-la falar sobre o seu primeiro príncipe, o seu primeiro beijo, a sua primeira vez e criares por fim a união mais inesquecível de todas! Ser-se Mãe!

Irrequieta, a Carolina agitou as pernas e procurou a mama com a boca. Era comilona! Tinha comido à tão pouco tempo, mal tinha arrotado e já estava a pedir mais!? Vamos ter de arranjar um part-time só para a alimentar. Que assim seja. Sai mesmo ao pai quando era garotito, ou será mais à mãe? Sim, porque tu eras igual! Empanturravas-te toda de chocolate e comias os bolos todos que apanhasses na mesa da cozinha. "Diziam que tinha um diabrete no corpo...", lembras-te de me contar? Talvez seja por isso que às vezes te vejo brincar de forma tão irracionalmente criança com a nossa pequenina. O teu sorriso nessas alturas deixa de ser matreiro ou provocador, e passa a ser um verdadeiro tesouro que transmite energia, alegria, felicidade, calma e segurança. Um sorriso tão puro e reconfortante que se pode sentir, para além de ser visto e amado, por todo o corpo como uma descarga eléctrica, que me põem aos pulos por dentro, aos gritos e a correr de um lado para o outro, por saber que estás feliz, que chegaste e me desejas.

Olhaste-a desesperada, estampando-se na cara a frustração de perder uma e outra vez, o mamilo que lhe dava alegria e conforto. Ajeitaste-as, à Carolina e a mama, e devagar chuchou a fome que nos impressionava. Ver-te tão calma e feliz, deixava-me em êxtase.
-- Devagar Carolina. -- avisaste-a. Por alguma razão ela cessou e olhou-te nos olhos, levantou os braços no ar e gesticulou as mãos sobre a tua cara. Sorriste e como mãe babada, endiabrada, provocaste estranhos barulhos junto das suas mãozinhas e na tua cara abriste a cortina para uma das peças de teatro mais cómicas que uma criança tão nova poderia sorrir.

Sabendo como és, vendo o que fazes, sentindo como a amas, completas-me, uma e outra vez, todos os dias, até à nossa velhice.

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sábado, 21 de setembro de 2013

Ou sabes, ou não vales nada...


No tempo dos nossos avós, não era preciso ir aos "ídolos" ou aparecer no "Youtube" para "saberem" cantar. Na altura cantava-se! Hoje... arrasta-se.
No tempo dos nossos avós, a música não precisava de bateria, de guitarra ou tambores, por si só se fazia música. Era fado sem instrumentos, com o melhor instrumento do mundo: A voz das nossas avós, a voz que embalaram os nossos pais, que ralharam e que também educaram.

Hoje, quem não sabe cantar não é gente. Quem desafina, não tem capacidades, não sabe fazer nada, porque a voz não encanta nem embeleza a pessoa. Cantar, é para todos, o tom da música é que é diferente para cada um. É como o tipo de orelhas ou a cor dos olhos. Se deceparmos os sonhos de uma criança, da mesma maneira fácil com que se diz em tom de "júri" sem qualquer tipo de conhecimento ou vocação: "Não sabes cantar, é melhor dedicares-te a outra coisa que dê dinheiro, tipo futebol ou médico.". Sim, porque uma pessoa não pode ser outra coisa que não cantor, futebolista, doutor, médico, advogado, psicólogo, arquitecto ou professor. Para os papás, os filhos têm de ser gente importante, já que eles nunca o foram ou nunca conseguiram ser. Uma pessoa não pode ser Pedreiro? Escultor? Desenhador? Fotografo? Doméstico? Electricista? Ser empregado de balcão ou servir às mesas?
Li no livro "Mulheres Inteligentes Relações Saudáveis" (pag. 97) esta frase muito inteligente:
"Uma pessoa madura é capaz não apenas de elogiar quem ama, mas todas as pessoas que de alguma forma a servem. Quem não é capaz de elogiar porteiros, cozinheiros, empregados de mesa e de limpeza não é digno de ser servido por eles. [...] há pessoas tão pobres que só têm dinheiro; há pessoas tão incultas que só têm cultura académica." de Augusto Cury.
Em Tenho vergonha...
És mais do que os outros por saberes cantar? Por teres carta de condução? Um emprego? Teres boas notas e um emprego que te dá muito dinheiro? Sabes o que tenho de ti? Não é inveja, é pena, por não teres tido a mesma vida feliz e simples que tive, que tenho e sempre terei, ao não ter de me colocar em todos os pedestais, subir todos os degraus de uma só vez e pisar os ombros de todos os que me ajudaram de uma maneira boa ou má a chegar ao estado psicológico onde estou. Porque tu podes ser muito boa em tudo, até na cama e fazer broxes, mas se não és capaz de olhar para ti própria e veres-te, conheceres-te, saberes quem és Tu para ti própria, não sabes fazer o mais importante. Conheceres-te e ser humilde.
Porque se eu não souber fazer o que 70% da sociedade/população faz, sou "anti-social", "pessoa de poucos amigos"? Eu gosto de ser uma pessoa calma, de conversar só quando acho que a conversa é interessante, de ter poucos amigos e de me dar com poucas pessoas. Isso não faz de mim "anti-social". O problema não está em mim, está em vocês, que aparentemente não compreendem a minha forma de viver, de ver e de sentir o mundo que me rodeia. Se eu não souber fazer uma coisa que tu sabes fazer, como por exemplo cantar, tocar viola, piano, dançar, comunicar, não faz de mim um desajeitado ou um zero à esquerda. Sendo os esquerdinos pessoas com QI mais elevado, até seria uma coisa positiva, visto que à esquerda do 0 vêm os números negativos que fazem parte dos cálculos que permitem conhecer e ir conhecendo o universo. Se sou menos do que tu, porque não ser igual, não fazer igual e não ser tão bom, espero que na altura em que tiveres de ver os teus filhos caminhar, não stress por eles não caminharem aos 2 meses, não falarem durante 1 ano, ou tiverem de usar óculos. Não faças deles príncipes, nem delas princesas, faz deles seres humanos. Ajuda-os a crescer, a conhecer a dor e a alegria, a tristeza e o sorriso.
-- Se não sabes, filho, o pai ensina-te!
-- Se o pai não souber? Vamos os dois aprender!
Não quero que os meus filhos nasçam em cima de um banco com a corda ao pescoço, uma lista de objectivos e tarefas a cumprir com prazos rígidos e apertados, nada flexíveis para o seu tempo de aprendizagem, como os filhos de quem vejo nascer à minha volta. Como os filhos que vejo pelo shopping, com um futuro traçado. Com um futuro o qual não pode explorar, construir ou viver. Filhos que não podem falhar nem cair, sair do passeio ou tropeçar. Eu não sou um problema, sou parte da solução. Porque quando tu bateres no fundo, irás andar à deriva, e quando eu chegar lá acima... vou navegar e viajar, aproveitar o sol, a água e as paisagens. Não preciso de muito para ser feliz, nem de ser melhor que os outros para ter atenção. Aprende a viver contigo própria antes de achares que por eu não ter um emprego "digno" e "limpo" que não faz de mim gente. Muito pelo contrário! Aprendo a re-valorizar o dinheiro que ganho, o tempo, o suor e o esforço que faço, para poder viver, não mais humano, mas com mais valor.

E não, tu não és sincera, és arrogante e muito mal educada!

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Quando abrires os olhos...
A tua mente num frasco...
O riquismo e a superioridade...

domingo, 15 de setembro de 2013

Um momento para mais tarde recordar...




Baixaste a cabeça, guardaste o cabelo por trás da orelha e ficaste a olhar para o rebento que encostavas ao peito, junto do coração que amadureceu. Cresceste... a tua sensibilidade ficou mais aguçada, o teu instinto maternal tornou-se mais vincado. Tornaste-te mais simples, mais confiante. Re-encontraste-te e re-escreveste parte de quem eras. Trouxeste do passado a criança e as brincadeiras, as músicas e as roupitas que sempre foram as tuas favoritas.

Olhas-te para mim, que te observava sentada à janela banhada pelo sol que se prendia no cortinado e fazia brilhar o teu cabelo dourado, cintilante como um estrela. Os meus olhos colados no milagre que fizeste nascer, despertou-te a atenção, um olhar meigo e um sorriso caloroso. Voltaste a entrar dentro da bolha emocional que criavas à tua volta e em volta do nosso filho. Um casamento perpétuo e único que te era difícil de explicar. Segurava-lo com a maior calma, mas já mais seria capaz de te o tirar de dentro dessa pequena caixinha de protecção criada pelo teu corpo, pelos teus ombros, braços e mãos. Era só teu, eras tu, somos nós. Um pequenino sere incapaz de comunicar, desajeitado e dependente, que nos proporciona a maior alegria e o maior amor incondicional. Um botãozinho por casar...
Um murmúrio leve ouviu-se no quarto, e lentamente, como as ondas do mar, foi-se transformando numa melodia sem letra, cantarolada com murmúrios hipnotizantes. Começaste então a balançar o teu corpo de um lado para o outro, embalando as duas únicas criaturas enfeitiçadas pela tua beleza e pela tua voz. Não me recordava de alguma vez ter ouvido essa música de embalar, mas trazia-me à memória, momentos de infância que julgava ter perdido no pó daquilo que um dia foi a minha vida mais alegre. Senti na barriga o calor do carinho que emanavas, e nos lábios os teus, carnudos e secos, à espera de uma língua para te saciar a cede. Beijei-te, lambeste os lábios. Com um olhar matreiro sorriste.
-- É só minha! -- afirmaste olhando-a. -- É nossa... -- fitaste-me os olhos. Levaste a mão à minha cara e acarinhaste-me. -- É nossa. -- declaraste. Sorri, beijei-a na testa e senti-a com a cara, olhando-te mãe babada.
A tua beleza emocionava-me. O teu amor invejava-me. Um anjo, perfeita, bonita. Todo o teu Eu exterior parecia gritar aos meus seis sentidos para nunca mais largar a tua mão, deixar de olhar para os teus olhos e parar de beijar o teu corpo.

És a melodia mais bonita que já ouvi, e o abraço mais acolhedor que já senti. Um momento para mais tarde recordar.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Quando abrires os olhos...


Quando acabares a universidade e sentires a vida a bater-te nas costas, nos ombros e na cabeça com uma força que te desmoraliza em cada chapada e em cada murro nos centímetros que te compõem o corpo e te constroem como gente, irás perceber que a boa vida que os teus pais te deram enquanto estudas-te, o dinheiro que esbanjaste quando te o davam para a mão que te beijavam, e apenas a matéria que decoravas só para ter mais um curso, o teu emprego de sonho, a profissão de uma vida, irás perceber que nada irá ter valor no mundo "real", que desleixaste e te despreocupaste em conhecer.

Pais que te pagaram tudo, que beijavam os pés e te deixavam dormir a tarde toda aos fins de semana, só porque estavas cansada de teres estudado tanto. Quando perceberes que ao te terem deixado em paz, quando era preciso arranjar um torneira ou uma telha partida, e te trocavam a tua mão de obra pela de um homem pago à hora, será tarde de mais para começares a fazer alguma coisa. Dar valor ao que não interessa, com valores que não te ajudam a crescer e a amadurecer.
Quando tiveres as obrigações a pesarem-te na carteira como bolas de chumbo que nunca soubeste carregar e gerir o seu peso, porque sempre tiveste dinheiro e nunca foi preciso fazeres um caralho!?, perceberás que a vida que os teus papás te deram, porque pura e simplesmente te queriam ver na universidade, babarem-se para cima dos outros, mostrarem-se orgulhosos do que que alcançaram através de ti, perceberás que na verdade nunca viveste, nem nunca construíste nada por ti. Não foste tu... foram os teus pais que falharam, que te deram de mais, que te protegeram de mais, que te educaram de menos e te tiraram dos ombros o peso que a sociedade cria em torno deles. A única coisa que te afectou e que te deixavam que te afectasse, era as tendências da moda, a imagem que de rica que têm de ti, a boa vida que emanas sem qualquer necessidade.

Quando abrires os olhos, irás perceber de que o caminho que seguiste, foi o errado, o mais fácil, o mais simples e o mais bonito. Quando chegares ao fim da estrada que sempre esbanjaste exageradamente "só por que podes" e porque "tens dinheiro", dar-te-ás conta que tu não estás no passeio amarelo, mas num poço enterrada até à cabeça, com uma simples corda velha como meio de salvação.

domingo, 8 de setembro de 2013

O teu "Olá"...


Saí de casa, fechei o portão e dediquei-me por um bocadinho a uma nódoa em forma de linha ao fundo das calças, junto aos tornozelos. Alheio ao que se passava à minha volta, levantei o corpo e tirei o puxo do cabelo. Sem esperar, passei por ti, e tu, com um ligeiro sorriso no rosto, olhas-te-me com um brilho nos olhos. Quase corada disseste:
-- Boa tarde.
Olhei para ti. Senti a coragem na tua voz e a vergonha por todo o teu corpo. Uma vergonha que espelhei facilmente em mim, e que se apoderou também do meu corpo, da minha mente, da minha voz. Respondi:
-- Boa tarde.
Um "boa tarde" num tom que me deixou a pensar o caminho todo até ao multibanco. Um tom de voz demasiado "adulto" e não... calmo ou meigo. Um "boa tarde" que fazia parecer que já te conhecia à anos, quando na realidade este fora o nosso primeiro contacto, o nosso primeiro encontro. O nosso primeiro namoro entre olhos. Achei um tom de voz que não combina em nada comigo e que tenho apenas de tentar controlar, de melhorar. Não quero assustar ninguém. O que me faz lembrar de um episódio que aconteceu em Aveiro, no Jumbo. Fui atendido por uma rapariga, extremamente bonita, e também eu na altura tentei controlar a minha vergonha pensando naquele espaço como um "intermarche" que eu conhecia e não um espaço onde me sentia exposto apesar de ninguém me conhecer. Ao voltar para a carrinha, a minha mãe comentou que tinha deixado a rapariga muito nervosa e atrapalhada. Que ao invés de ela dizer boa tarde, tinha dito bom dia. Coisa que mal reparei, pois também eu estava nervoso e envergonhado.

O que me surpreendeu em ti, não foi a tua idade mas a coragem que tiveste em cumprimentar alguém, um rapaz, que não conhecias de lado nenhum, que talvez tenhas apenas visto do outro lado do passeio sem saberes quem era. Tenho de admitir que não estava à espera do teu "Olá", mas soube-me bem. Principalmente por te sentir sorrir de vergonha depois de passares por mim. Fizeste-me olhar para trás e perguntar-me a mim mesmo, de novo, se eu era realmente bonito para as outras pessoas. Se eu sou realmente bonito aos olhos dos outros como sou para mim. Já longe, olhei para trás mais umas poucas vezes na esperança de olhares também. O Ego, feliz, pulava de alegria. Pela primeira vez, ouvira o "és muito bonito" através de palavras, de um som, ao invés de um olhar ou de um caminhar.
Tal como me acontece a mim, por vergonha, começo a acreditar que quando uma mulher, uma rapariga não me olha nos olhos, mas me evita, o que ela realmente está a tentar fazer é esconder a vergonha de ver alguém tão bonito. Digo-o porque eu faço o mesmo, para evitar ser apanhado em flagrante a admirar. Não é por ser uma coisa má, é para eu não ter de ficar vermelho que nem um tomate sem saber onde me esconder.
Ao lado de uma rapariga da tua idade, só poderei ser amigo; O que me fez pensar no porquê de tu teres sido capaz de me cumprimentar, de iniciar conversa, e outras raparigas muito mais velhas do que tu, que são autênticos animais de socialização, serem incapazes de o fazer sem primeiro me gozar ou se rirem. E digo isto porque... para além do óbvio interesse que tiveste em mim, tiveste um desejo, um "amor à primeira vista", uma vontade emocional.
Deparo-me, quando vou à feira ou ao centro comercial, com mulheres mais velhas e olharem-me de alto a baixo, quase como se os maridos não tivessem ao lado delas. Um olhar que me "devora" e que me deixa, de certa forma, desconfortável por não saber o que fazer. Será que me olham daquela maneira só porque levo o cabelo comprido? Só pela minha cara? Ou será pelo conjunto tudo?
Continuo sem me esquecer da rapariga que uma vez em Coimbra ficou completamente vidrada em mim enquanto caminhava no sentido oposto.

O teu "Olá" desencadeou em mim uma série de perguntas e respostas. Uma delas foi: "Será que valho a pena para alguém?", "Será que tenho algo de jeito para dar?". Para além de tudo o que sei, de tudo o que faço, será que espremido eu seja capaz de dar o que sou e o que amo?
Tenho pena que sejas tão nova, e que tenhas sido a primeira rapariga a cumprimentar-me na rua, a encarar-me, a sorrir-me. A única e a primeira rapariga sincera, que não conhecia antes, a não se rir de mim mas a deliciar-se com o que viu. De te envergonhares. De seres simpática. E aproveito para te contar um pequeno segredo. Se não tivesses sido tu a dizeres-me olá, eu nunca te teria cumprimentado. A razão? Porque sou muito envergonhado, especialmente com raparigas. Talvez seja essa a razão de ainda continuar sozinho. Acho que as raparigas de hoje esperam que seja o homem a dar o primeiro passo. Parece que comigo vão ter de esperar muito tempo até isso acontecer...

O teu "Olá", mudou a maneira como me vejo e como interajo. Obrigado.

domingo, 1 de setembro de 2013

O silêncio...




A escuridão vai e vem, sobre um vento que nunca sopra, cantando ao som do silêncio que não tem voz nem presença. O uivo do lobo levanta-se sobre a lua cheia, ultrapassando as nuvens e perdendo-se nas estrelas que não compreende. A água escorre no rio como uma veia em adrenalina, protegendo da chuva tempestuosa os peixes peregrinos.
Os pássaros já não cantam, o sol já morreu e um candeeiro acende-se no inicio da rua, onde sombra alguma mora. Os papeis fazem corridas, e o som do frigorifico começa como um zumbido inerte, sem asas. O quarto encolhe, os ouvidos dilatam e até o mais pequeno grilo te desperta a atenção. A roupa acolhe o corpo abandonado, despejado como um balde para a fossa de amores e carinhos que existem apenas na tua mente fantasiosa. Desconheces o porquê, mas decoraste como um mapa a tristeza que te corrói e a felicidade que te faz correr. O sono não vem e dás-te fechada num quarto vazio que já esteve mais cheio, de um algo que espremido não dá nada. A solidão segreda-te ao ouvido, o murro no estômago que não sentes, mas que cheira a azia. Toda a gente nesta casa dorme acompanhado, e tu, és a única ovelha malhada que estraga a tendência, a estatística. Apertas-te então nos cobertores já tão enrolados, na esperança de fazer desaparecer do teu corpo o frio emocional que te acompanha em cada sorriso e em cada passo. Olhas para o lado à espera de ver um milagre mágico personificado, e dás-te de caras com uma parede velha que te conhece o rosto melhor do que tu lhe recordas a tinta. O incómodo que te faz criar histórias, é o mesmo que te destróis os sonhos que já não recordas mas que te fazem relembrar, vezes e vezes sem conta, as merdas que foste fazendo. Os erros que se entalam na garganta e se acumulam como martelos que nunca param de bater no corpo frágil que já não controlas,  que já não respira; Que apenas sobrevive, aos fracassos que guerreiam com a tua fragilidade e os teus sentimentos, à espera sorrateiramente de um descuido teu para assumir de vez o controlo da vida amarfanhada e nojentamente defeituosa.
O medo não é teu, foi-te herdado, assim como tudo o resto que cresceu em ti e contigo. A criação de um ser humano, começa no momento fora das cronologias e dos temporizadores. Um momento que te passa em faísca por esse teu corpo que não te atrai.
A noite não é escura, é apenas o teu lado negativo a observar. O mundo não fechou as persianas só para deixar de te ouvir pensar. Não se esqueceu que existes quando tudo se calou, e não apagou a luz só para deixar de te ver.

O silêncio... está na tua mente, e é nela que começa a tua revolução.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Quando eu não gostar...



Não tenhas medo de me dar um beijo sem qualquer razão, de me abraçar sem teres saudades, de me levares longe daqui para outras paragens, para outros mundos que desconheço. De me levar a correr contigo, de colocares a tua música no computador, de dormires vestida ou toda nua, de teres ciúmes ou controlares-me, de exigires ou te esqueceres de algo importante. De fazer comida sem saberes se gosto, de comprares roupa sem saberes se me serve ou se uso, de usares perfume ou dizeres o que pensas. De gritares ou chorares, de rir ou sorrir, de seres tu própria e não uma pessoa com medos e indecisões com aquilo que possas dizer, fazer ou parecer.

Quando eu não gostar, digo-te. Não, não é "quando eu não gostar", é quando eu preferir algo diferente.
Quando eu preferir o vermelho sobre o azul, quando eu preferir as mãos por dentro da camisola e não fora dela, quando eu preferir ver-te sorrir ou ouvir-te zangada. Quando eu preferir que fales comigo ao invés de me tentares controlar, quando eu preferir que confies em mim ao invés de teres ciúmes, quando eu te preferir nua ou um pouco de sossego. Quando eu preferir um chá ao invés de leite, quando eu preferir correr ao invés de estarmos sentados com medo de me levares a correr e de não correres por não quereres ir sozinha e desejares partilhar o momento. Quando preferir ir a uma loja que gosto mais ou invés de ir a uma que não me desperte tanto interesse.

Quando eu preferir outra coisa, eu digo-te, mas até lá, faz, diz e sê, sem medo. Quem sabe, talvez até vá gostar de "tudo" o que fizeres... Sê espontânea!

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domingo, 25 de agosto de 2013

Angustia...


Vi, o calor desaparecer por trás de mim, caindo na relva e no topo das árvores, como um adeus já tardio. Levava com ele as horas, a energia, as corridas e a caça aos pássaros. Senti frio uma brisa levantar voo sobre o meu pêlo, intensificado a saudade da ausência de tempo para conquistar e descobrir novos territórios, conversar com os vizinhos e escorraçar os intrusos.
À uma semana que não vejo a borboleta que me fez correr atrás dela e fazer-me aventurar como o meu coração nunca o tinha feito. De olhar para ela quando batia as asas, ao invés de lançar as garras sobre as suas cores tão profundas, tão destacadas das outras cores mortas que me rodeiam. Observar com detalhe o bater leve das asas, quando parada, como o bater do meu coração quando me deito sobre o telhado e vejo as luzes longínquas da noite piscar e caminhar na sua vida tão calma.

A manhã foi calma, a tarde calorenta e agora que tudo acaba, sinto a angústia afogar-me os olhos, apertar-me o peito e impedir de voltar para o cama que me abraça e esfrega o pêlo. Angústia de não saber por onde anda e onde apenas vôo. Porque olhar para o pôr do sol lembra-me e aquece-me as notas musicais daquela menina sempre gulosa pela minha barriga. Daqueles dias escuros em que não me atrevia a sair muito de casa ou do seu colo. Dos dias da comida na taça e dos presentes, mortos, que lhe levava com tanto carinho como prenda de anos.
Já não ouço o ronronar da besta metálica, os sacos das compras ou a chave entrar na porta. Não ouço a sua vida mas ainda sinto a sua voz doce aos meus ouvidos, ainda sinto a sua mão no meu corpo e os seus olhos grandes incomodarem-me a alma traquina.

Estou só, perdido, desconhecido, à espera que outra vida me receba e cuide tão bem como eu os protejo das pragas e dos dias que passam em angustias e solidão.

Borboleta, para onde foste?

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Aproxima-te...



Das profundezas obscuras da minha mente, subiam-me pelas paredes do cérebro, gritos vindos do inferno. Gritos de dor e sofrimento que arranhavam as caras e desmembravam corpos. Espalhando sangue por todo o lado, como uma chacina violenta. Os cadáveres cravavam as foices na garganta rebentada em pus, aliando-se a uma dor de cabeça tão forte que provoca um enjoo doentio. O sorriso era trocado e apedrejado, esfaqueado pela mão assassina de um rosto sem máscara. As costas esfoladas, com a pele arrancada dos ossos, rasgando músculos e tendões.

A mão que acaricia, é a mão que ordena a morte, que te aponta a bala à testa e a faca ao coração. O punho que se fecha sobre a tua cara rosada, a estalada que te rebenta os lábios de batom. Arrancar dos cabelos o brilho, desfazer os caracóis e traçar na cara um grande "não". Aproxima-te da escuridão em que me fecho, deixa-te aprisionar na tortura da minha selva descontrolada, na frieza que te desnuda e no calor que te desconforta. Queres ser só mais uma? Então encosta-te a mim de deixa-te ser seduzida e violada em tudo o que te torna gente. Deixa que a minha pessoa te influencie e te domine. A liberdade que julgas ter é apenas uma ilusão.

Regurgito de mim as memórias violadas, o sangue lambido e o assassino que embelezo em cada morte.

Tem haver com a incompatibilidade...



Não tem haver com a compatibilidade, mas sim com a maneira de como ambos lidam com a incompatibilidade.

Numa relação, não é só o que nos une que tem ou deve ter mais atenção, mas a maneira como lidam com a diferença que os "separa". Mas a diferença nos os deveria separar. Não será um defeito, será um efeito que pode ser re-educado, não por ser ou ter um aspecto negativo implícito no que quer que seja, mas porque devemos crescer, aprender e re-escrever o que somos, como somos, o que fazemos e como o fazemos. Aprender a crescer, não irá ajudar-nos apenas a conhecermos-nos, mas também, mais tarde, ajudar a educar e compreender os nossos filhos.
A diferença, que se transforma num defeito, não deveria ser só mais um entrave ou mais uma desculpa para acabar uma relação ou um "momento", mas antes um re-começar.
"Não sou pai de ninguém para andar a ensinar o que deve ou não deve fazer". Se por um lado tens razão, pelo outro falhas redondamente com a resposta que dás, porque não sendo tu pai ou mãe de ninguém, por enquanto, civicamente fica-te bem seres bem educado/a, ouvires os outros e aceitares as diferentes opiniões. Coisa que é difícil não é? E depois falam de mim...
Só que eu não estou a falar em "ouvir os outros" que não conheço, mas em ouvir a namorada ou o namorado, o marido ou a mulher, que deveriam ser ouvidos e "compreendidos", se não o são de todo, então isso não é uma relação em conjunto mas antes um comodismo de troca de "carinhos".
Porque uma incompatibilidade pode destruir facilmente uma relação. Um defeito no outro, pode dar aso a lutas, zangas e jogos psicológicos. A falha, está no momento em que ambos vêem defeitos, incompatibilidades, e não uma oportunidade para "mudar" ou "aprender" a serem melhores pessoas.
E sim, fumar e beber álcool são um GRANDE defeito, droga e desleixo para os estudos. Mas a frieza nas palavras, a frieza nos beijos ou nos abraços, as "desilusões", são a falta de tempo para raciocinar, são a falta de presença, a falta de ti nele, ao lado e à volta. Da mesma maneira que se curam feridas psicológicas, também se pode re-ensinar um indivíduo a agir de outra maneira. Não que a maneira como age seja má, mas pode conter um aspecto negativo ou menos harmonioso. O que estou a tentar dizer é que todos temos "defeitos", mais ou menos aceitáveis dependendo do grupo de pessoas e da namorada/o, resta apenas a quem partilha ou quer partilhar uma vida ao nosso lado, mostrar-nos onde estamos a falhar OU onde podemos melhorar. Dar soluções e não apenas criticar.

Um defeito não se torna um incómodo sozinho, é preciso que algum dos dois se comece a sentir menos ou ver o outro como inferior a si. E eu não falo em música, mas em atitudes, em acções, em escolhas. Ainda que sejamos indivíduos já psicologicamente desenvolvidos, não significa que não possamos aprender de novo.
Uma relação tem precisamente haver com a incompatibilidade e não com a compatibilidade. Porque nenhuma relação se pode designar realmente uma "relação" sem antes se definir "regras", e se conhecer o que os separa ou o que os incomoda. A razão!? Ninguém no seu perfeito juízo passaria a vida inteira com alguém que não está disposto a crescer, a aprender, a ouvir, e a ficar sentado ao lado e não na mesa à frente, desligado e despreocupado. E não, estar simplesmente presente não significa que tenham uma boa relação, falarem todos os dias também não, deitarem-se na mesma cama muito menos.
Porque verem-se todos os dias não significa que tudo esteja bem, falarem não significa que realmente conversem e troquem ou partilhem informação realmente relevante para ambos e para a própria relação, e não, deitarem-se na mesma cama não significa que continuam fieis, que ainda se amam ou que se toleram, mas apenas que se tornou num hábito. Quando se tornar impossível olharem um para o outro, de falarem um para o outro e de dormirem um ao lado do outro, a relação destrói-se pura e simplesmente, porque olhavam sem nunca conseguir ver, porque falavam sem nunca conseguir entender o que o outro queria dizer há já tanto tempo, e partilhar um momento "intimo" como o partilhar a mesma cama, onde o cheiro de ambos se mistura. Estão juntos, mas não sabem o que isso realmente significa.
Por tanto, não é o que vos une que prova, demonstra ou dá valor à vossa relação, mas precisamente a maneira como lidam com o que os separa.
No entanto, há coisas que só podem ser ensinadas aos outros, se os outros sofrerem com isso, como se costuma dizer: "abre-olhos". Um susto, um medo, e depois disso, dar um tempo, algum tempo, talvez bastante, até que recordem e aprendam onde erraram. Tal como me aconteceu a mim, depois de 1 ano da ultima relação ter acabado, ainda me recordava dos erros e aprendia com eles. Mas eu aprendi, existe, porem, muita gente que não aprende nada, que não cresce, que não mentaliza nem consciencializa os erros e os defeitos que foi tendo. São o tipo de pessoas que errou, que falhou e não sabe onde.
Uma namorada ou namorado ciumento, é de facto um defeito, demonstra insegurança pessoal E também desconfiança e falta dela em relação à pessoa com quem decidiu partilhar uma vida inteira, em principio. Se tal rapariga ou rapaz é assim tão ciumento/a, o problema, provavelmente não é só dela, mas também teu. O problema é dela, porque é ciumenta em exagero e é provavelmente teu porque deve ter razão. Caso não tenha razão, então aí sim é um problema grave e é dela, porque não sabe o que é dar espaço. Nem sequer se trata de incompatibilidade ou de um defeito dela, é simplesmente uma mania parva. Mas é uma mania que pode ser educada? De certa forma sim. Pode-se combater fogo com fogo. Se ela é ciumenta, sê ciumento em exagero. O problema, tal como me aconteceu a mim, é de que ela vai-se armar em parva e vai querer espaço, vai dizer que estás a ser parvo, que não tens razão nenhuma em estar assim, apesar de teres razão. E se achares que ela anda com outro, acredita em 100%. O teu cérebro tem razão.
Começa com a falta de sexo e de vontade em estar contigo e até mesmo com intolerância de coisas que dizias ou que fazias. Quando isso acontecer, não vai ser a compatibilidade, a incompatibilidade que vos vai unir. O melhor é separarem-se o mais rápido possível. Porque ela andar com outro não é um erro teu, é um erro dela, porque como irás perceber mais para a frente, ela nunca soube conversar contigo, dialogar e dar soluções, tempo e oportunidades para processares a informação ou até mesmo o que ela disse. A culpa raramente é de um único indivíduo, mas quando duas pessoas se trocam por amantes, o problema não está nas pessoas de fora, no ambiente externo ou nos familiares, está na falta de conversa cada vez que se olhavam no momento em que se deitavam na mesma cama.

É um "defeito" que pode passar a "feitio" e que com alguma ajuda transformar-se num "enfeite". O mais importante das incompatibilidades é dialogar, conversar e compreender. Dar espaço e tempo. E quando falo em tempo não é alguns minutos, horas ou dias. Uma pessoa normal nunca irá mudar, mas se for inteligente o suficiente, ao fim de 1 mês e algumas semanas, talvez ao fim de 4 ou 5, mude e o hábito "parvo" desapareça ou atenue.

Os opostos não se atraem, devem, se o desejarem, saber viver ao lado um do outro, respeitando-se mutuamente. Não é conviver é partilhar. Porque uma relação não é um conto de fadas singelo sem ameaças ou problemas, é um investimento mútuo que deve ser valorizado por cada um.
A tua relação ou não relação baseia-se, muito resumidamente, no anuncio da danone, ou consegues perceber (+/-) se uma pessoa é madura o suficiente para ti!? Até porque também não te podes esquecer que a outra vai exigir coisas que talvez tu ainda não estejas preparado psicologicamente para dar. A culpa não é tua, mas passará a ser dela se vier a namorar contigo. Ela sabia o que eras ao principio e sabia aquilo que podias trazer para cultivar na relação.
Lembra-te também de outra coisa, o esforço num casal, não se divide em 50%-50%, mas 100%-100%, porque é uma coisa a dois, de dois, e não para dois. É diferente! Uma relação não é um convívio é uma partilha de confiança, respeito e tempo. Se é para andares com jogos psicológicos, zangas sem sentido  e que espremidas não valem nada ou controlo absurdo e exagerado, então tu não estás numa relação mas numa ditadura, numa guerra, numa relação azeda que perdeu o brilho (se é que o teve alguma vez) à muito tempo.

Duas frases simples e pequenas podem estragar a tua relação super-hiper-mega-perfeita em apenas 10 segundos.

O teu namorado vê pornografia e têm-te andado a mentir este tempo todo.
O teu namorado traiu-te e tu não sabes.

No fim disto, não sabes se é mentira ou se é verdade, mas isso não importante porque agora vais andar desconfiada mesmo que confies nele. A não ser que sejas uma rapariga que lida bem com "traições" e pornografia. Caso não o sejas, pensa nisto: Ele tem andado a fazer certas coisas nas tuas costas e algumas delas são precisamente as que lhe pediste para ele deixar de fazer ou nunca fazer. Ele jurou-te e prometeu-te que já não o fazia, mas ele faz.
E agora!? A incompatibilidade é um defeito ou falta de uma conversa séria e madura com a opção de lhe dares um tempo para crescer e aprender!?
Até porque... tu não mandas em ninguém, e se não estás feliz podes sempre mudar. Lembra-te de que isso espremido nem sequer vale o tempo de te estares a zangar ou a criar rancor, ódio ou nojo seja por quem for. O outro é livre até ao ponto de tu o enjaulares só para fazeres cumprir os teus caprichos, sonhos e desejos. Não és mais nem és menos, és igual. E se és igual, deixa de ser mesquinha e aprende a conversar, aprende e desenvolve.

Já nada disto tem haver com o que vos separa ou com o que vos une, mas única e simplesmente com o tipo de pessoas que são e que deixam os outros ser quando estão à vossa volta.
Tu cresces ou permaneces estupidamente atónito a todos os erros e fracassos que te acontecem na vida!?

Os príncipes, são sempre perfeitos...
O divórcio em Portugal...

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Desvanece...


Dois corpos, nus na escuridão de um espaço infinito. Abraçados um ao outro, de olhos fechados, sentindo os seus corpos frios, sensíveis. As emoções deslizavam sobre a pele como seda, acarinhando-se mutuamente com os seus dedos melancólicos. Ouvia a respiração dela sobre a dele, arfante, quase como um gemido. Aproximaram-se, sentiu o cabelo dela na sua cara e deixou-se absorver pelas ondas que lhe limpavam a alma, que lhe acalmavam a mente. Afastavam do seu consciente a tristeza de um adeus e aproximavam-se os sorrisos pequeninos da sua mulher, as corridas, as brincadeiras, a comida e as paisagens.
Os pulmões dela encheram-se de ar, beijada no peito, agarrada, acariciada. Deixou-se levar, guiar por entre a erva alta de um prado verde. Sentia a brisa fresca no peito, os cabelos bater-lhe nas orelhas e o sol descansar sobre a almofada de estrelas. A terra húmida sobe os seus pés, as mãos trémulas que lhe acariciavam o corpo, a cara, a cintura.
Um foco de luz ténue incidiu sobre eles, serpenteando sobre os seus corpos como uma vela soprada pelo ar de um anjo, hipnotizada por um beijo, bêbeda.

-- O que sou eu para ti?
-- Tudo o que quiseres ser...

Os lábios tocaram-se, as mãos sentiram a cara e a chama morreu, perdendo o brilho à medida que se emaranhava na escuridão.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

As crianças e a concentração


Costuma-se dizer, que a nossa concentração tem uma duração máxima de 15 minutos.

Na escola, a matéria não é tão interessante como um episódio de 25/30 minutos de Dragonball, que quando acaba "Não percam o próximo episódio, porque nós também não!", os 30 sabem a pouco. Isto é fácil de explicar utilizando a lei da relatividade de Einstein. Quando estamos entretidos, o tempo passa muito mais depressa, e uma das razões principais é o simples facto de o nosso cérebro desligar o nosso relógio biológico, de se esquecer, de deixar de dar importância, pelo simples facto de estar a ter prazer com o que quer que esteja a fazer no momento.

Se repararmos e estivermos com atenção ao que se passa no telejornal em si, nas imagens, nas músicas, nos tempos, reparamos que uma noticia não tem mais do que 5 minutos. Cada imagem dura 3 segundos, e só dura mais de 3s quando a imagem não é parada. A própria televisão cria em nós uma concentração abaixo dos 15 minutos. Vivemos, neste momento, numa geração do "Agora", do "Rápido", do "Fácil" e do "Acessível". Não temos paciência para esperar pelo que desejamos. Culpada disso é a Google, que nos destruiu a atenção, a concentração, que nos tornou viciados pela rapidez com o acesso à informação, que nos desinformou, apesar de nos ter actualizado. Que nos des-socializou, apesar de ter-nos colocado todos cada vez mais perto. Que nos roubou a capacidade de procurar uma palavra num dicionário, apesar de nos ter facilitado a aprender a escreve-la.

Os Superficiais

A nossa concentração quando estamos motivados, quando tiramos prazer, é capaz de durar horas, e duraria dias ou semanas se não precisássemos de dormir! Perguntem àqueles que trabalham naquilo que realmente gostam de fazer, que realmente fazem do seu trabalho o seu hobby. Eu próprio tenho facilidade em ficar concentrado em coisas que muitas pessoas nem sequer gastariam 3 segundos do seu tempo, porque pura e simplesmente não lhes interessa. Contudo, estes "15 minutos", este prazo, pode ser comprovado através de uma conversa em árvore. Através de uma boa conversa. Iniciamos uma com um assunto, com uma opinião, com um argumento, com uma perspectiva e facilmente se constrói uma árvore enraizada. Ao fim de alguns minutos perdemos o inicio, teremos entretanto percorrido meia-dúzia de assuntos diferentes, provando que a nossa "atenção" argumentativa, ou de processamento de grandes quantidades de dados, nomeadamente memórias e experiências, não dura mais do que 15 minutos a menos que apontemos as coisas num papel. E digo isto porque enquanto esperamos pela nossa vez de falar, a conversa já avançou para outros assuntos "mais interessantes".

É por isso uma marca precisa de causar impacto (positivo) logo no primeiro placar, com as cores, com as letras, com o formato. Precisa de criar um logótipo ou uma mensagem de uma determinada maneira para que seja fácil de perceber, de ler, de interpretar e manipular-nos o suficiente para decidirmos comprar o produto.
É também por isso que um bom interface web é importante, porque se uma pessoa demorar mais do que 30s para encontrar o que procura ou se o número de cliques é superior ao que deveria ser necessário para uma operação fora do mesmo, então aquela página está condenada ao fracasso.

A nossa concentração desenvolve-se connosco desde o berço. Mas até enquanto somos bebés, perdemos rapidamente a concentração e o interesse para com um peluche, ou porque estamos cansados, ou porque já não nos atrai, já não nos inspira, nos fascina ou inspira. Tal como acontece com a música, com os filmes, com os livros, com a pintura.
A concentração sobre uma única tarefa, tem uma duração máxima de 15 min (+/-), e a razão é muito simples. Possuímos ainda um instinto muito primitivo a comandar o nosso cérebro, os nossos 5 sentidos, apesar de cientistas confirmarem de que existem outros, como é o caso do sentido de gravidade. Esse instinto primitivo de curta duração de atenção, permitia-nos estarmos atentos ao meio ambiente que nos rodeada, de verificarmos, procurarmos e termos atenção a possíveis predadores, enquanto apanhávamos frutos ou socializávamos uns com os outros. Como se pode testemunhar com as suricatas.
A nossa falácia para com a nossa fraca atenção, não é de todo um problema grave, mas um mecanismo importante que nos garantiu a sobrevivência durante milhões de anos. O problema não está em nós, mas no hoje. Porque o hoje, exije de nós capacidades, interesses, que não estamos talhados para fazer responder. Não evoluímos para o mundo de hoje, não nos aperfeiçoámos para o agora, mas para o mundo austero em que a morte caminhava por trás de nós, seguindo cada pegada com o mais profundo silêncio. O nosso problema de concentração já foi no passado uma grande ajuda, e hoje é apenas, uma grande dor de cabeça.

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Apontar é feio...
Animais espelhados como humanos...
O que é o "mal"?
A Natureza das cores...