sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Eu vi um anjo...

Eu vi um anjo à minha janela. Era misteriosa e vestia-se de branco como o luar. Os seus olhos atravessaram o vidro enevoado fitando os meus olhos fracos. Aproximou a sua cara e a condensação desapareceu com o calor do seu rosto. Num momento efêmero, senti a sua preocupação estampar-se no rosto e um enorme fervor de me aquecer no abrir dos seus grandes olhos.

A janela abriu sem ruídos ou lamurias, estava encantada pelos rios vermelhos, que pareciam encaracolar-se, com a fúria dos sete ventos. Algodão nos seus ombros pálidos, uma extensão do seu corpo capaz de dar as melhores massagens.
O perfume bateu as assas pelo quarto, como uma borboleta sem direcção. Domou o ar com um aroma gentil como uma bailarina. Sereno ao toque e deliciosamente serpenteante para a mente do mortal despido, carregado de medos e culpas.
Desceu flutuante até junto do corpo, inerte, pintado de sangue. Olhos sem brilho mas com vida.
Algo brilhou diante de si, mas não era a lua. Um pequeno sorriso abraçou-o no seu mais puro sofrimento, embrulhando-o no amor e carinho que jamais tivera. Esticou o seu braço, deixando o seu singelo vestido deslizar por ele abaixo. Os dedos compridos chamaram-o a si, num gesto que libertou das correntes do medo, uma criança que já não sabia o que era ser livre.

Ouvi de ti o amor que transpiras, que te faz a alma arder e os lábios suar de desejo, como uma semente que te escorre pela espinha torneada e pintada de um branco que se confunde com o vestido. Os cabelos transformam-se em leves adornos, que completam algo já tão perfeito. A tua face, foi desenhada por um proteccionista. Decorada por um poeta e concluída por um pintor. Uma imagem inspirada das paisagens que nos tiram o folgo, saboreada pelo mais guloso doce, perfumada pelo melhor néctar.

Dolorosamente, levantei a cabeça e a luz reflectida no teu vestido, parecia esfumar-te de uma existência que o meu cérebro se debatia em acreditar.
Uma leve melodia, composta pelo chilrear dos pássaros, do vento e dos cheiros que balançavam no ar, no grande salão de bailes do mundo, fez vénia aos meus ouvidos e preencheu o meu peito com o ar da alegria, da vida, da poeira cósmica que me deslumbra em sonhos. Uma epifania, um choque que me percorreu a espinha, as mãos. Um choque que me trouxe de volta da escuridão do poço. Tinha descido ao inferno mas puxaste-me da foice.

por finalizar...

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