domingo, 15 de setembro de 2013

Um momento para mais tarde recordar...




Baixaste a cabeça, guardaste o cabelo por trás da orelha e ficaste a olhar para o rebento que encostavas ao peito, junto do coração que amadureceu. Cresceste... a tua sensibilidade ficou mais aguçada, o teu instinto maternal tornou-se mais vincado. Tornaste-te mais simples, mais confiante. Re-encontraste-te e re-escreveste parte de quem eras. Trouxeste do passado a criança e as brincadeiras, as músicas e as roupitas que sempre foram as tuas favoritas.

Olhas-te para mim, que te observava sentada à janela banhada pelo sol que se prendia no cortinado e fazia brilhar o teu cabelo dourado, cintilante como um estrela. Os meus olhos colados no milagre que fizeste nascer, despertou-te a atenção, um olhar meigo e um sorriso caloroso. Voltaste a entrar dentro da bolha emocional que criavas à tua volta e em volta do nosso filho. Um casamento perpétuo e único que te era difícil de explicar. Segurava-lo com a maior calma, mas já mais seria capaz de te o tirar de dentro dessa pequena caixinha de protecção criada pelo teu corpo, pelos teus ombros, braços e mãos. Era só teu, eras tu, somos nós. Um pequenino sere incapaz de comunicar, desajeitado e dependente, que nos proporciona a maior alegria e o maior amor incondicional. Um botãozinho por casar...
Um murmúrio leve ouviu-se no quarto, e lentamente, como as ondas do mar, foi-se transformando numa melodia sem letra, cantarolada com murmúrios hipnotizantes. Começaste então a balançar o teu corpo de um lado para o outro, embalando as duas únicas criaturas enfeitiçadas pela tua beleza e pela tua voz. Não me recordava de alguma vez ter ouvido essa música de embalar, mas trazia-me à memória, momentos de infância que julgava ter perdido no pó daquilo que um dia foi a minha vida mais alegre. Senti na barriga o calor do carinho que emanavas, e nos lábios os teus, carnudos e secos, à espera de uma língua para te saciar a cede. Beijei-te, lambeste os lábios. Com um olhar matreiro sorriste.
-- É só minha! -- afirmaste olhando-a. -- É nossa... -- fitaste-me os olhos. Levaste a mão à minha cara e acarinhaste-me. -- É nossa. -- declaraste. Sorri, beijei-a na testa e senti-a com a cara, olhando-te mãe babada.
A tua beleza emocionava-me. O teu amor invejava-me. Um anjo, perfeita, bonita. Todo o teu Eu exterior parecia gritar aos meus seis sentidos para nunca mais largar a tua mão, deixar de olhar para os teus olhos e parar de beijar o teu corpo.

És a melodia mais bonita que já ouvi, e o abraço mais acolhedor que já senti. Um momento para mais tarde recordar.

Sem comentários:

Enviar um comentário