sexta-feira, 23 de maio de 2014

O viajante solitário...


Hoje (22-05-2014), tive um sonho, que tinha tido quando era muito pequeno. Cerca de 4 a 5 nos de idade. No tempo em que ainda dormia no quarto gigante com os meus pais e o meu irmão, cada um num lado da cama. Lembro-me de dormir sempre o lado direito, para quem olhasse de frente para ela (cama), apesar de o meu pai me garantir que todos os dias trocávamos de cama. Segundo nos veio a dizer mais tarde: Conheceu um senhor que na altura em teve filhos, dormia também com cada um do lado da cama. Mas, com o tempo, foi-se apegando mais ao filho que dormia do lado dele do que dormia do lado da mãe. Como o meu pai não queria que isso lhe pudesse acontecer, trocava-nos; Daí a explicação para um acto que podiam achar "estranho".

O sonho em si, talvez não vos diga nada, mas como vejo as coisas de maneira diferente e tento examinar tudo o que me rodeia, vejo, ouço, digo, sonho, vou ter mesmo de pôr por escrito aquilo que vi e porque razão este sonho, há muito esquecido, me é tão... intrigante.
Poderia dizer que era só mais um dos sonhos recorrentes que todos temos ao longo das nossas vidas. O que é perfeitamente "normal", e há até quem estude isso, como é abordado no documentário "NOVA - What Are Dreams?". A primeira coisa que me surgiu à cabeça, foi um sentimento de déjà-vu. Eu próprio me apercebi de que reconhecia o sonho, aquele cenário e mais importante ainda, das emoções.
Bom, terei de dizer que segundo neurologistas, os déjà-vu são um erro do cérebro. Eu não acredito que o meu cérebro tenha erros ou construa falhas. A nossa capacidade de nos relembrar-mos de certas cenas e emoções, esta directamente ligada à memória e à previsão de eventos, o que é imperativamente importante para a nossa sobrevivência. Portanto, dizer o que cérebro tem falhas a esse ponto de déjà-vu, é para mim um erro.

O sonho transportava-me para o interior de uma nave oval branca, como uma espécie de bola de rugby, mas todo o interior estava vazio e o chão parecia feito de azulejos quadrados mais ou menos do tamanho do meu pé. Tinha algo como 14/16 anos, e conseguia ver o universo através de amplas janelas. Não sabia se a nave estava a andar, porque tudo lá fora parecia parado. Um sentimento de solidão abatia-se sobre mim. Estava sozinho. Não ouvia vozes, não existia mais ninguém. Não havia quartos, balcões de cozinha, mesas, comida. Apenas eu, dentro de uma nave ao qual não sabia o destino.
Numa idade em que nunca tinha visto filmes de guerras espaciais ou sobre o universo, apesar de o meu pai me falar disso e possivelmente ter visto alguma imagem na capa de um livro, não tinha o conceito de viajem no espaço ou sequer de uma nave, apesar de reconhecer que conhecia muito bem a sensação de abandono e solidão. Foi um sonho muito vivido na altura, apesar de não o compreender quando acordei. Hoje, quando voltei a sonhar com o mesmo, senti exactamente os mesmos sentimentos. Principalmente a de vazio. Sei que é difícil compreender, e ainda mais difícil é para mim explicá-lo, mas quer eu queria acreditar quer não, isto, não foi um sonho, mas uma memória de uma vida passada. Não, não sou uma reencarnação, mas este sonho é tão intenso, tão real, tão emocionalmente detalhado, que quando acordei, julguei tratar-se de uma memória verdadeira e não só de um sonho que tive quando era criança.

Este viajante solitário, numa nave desprovida de ornamentos, relembrava-me o filme "2001 Odisseia no Espaço", baseado num livro com o mesmo nome, escrito por Arthur C. Clarke. Um filme que viria, muito pouco, já depois dos meus 14/16 anos, e finalmente aos 22 em mais detalhe. Percebi hoje mais tarde, de uma possível explicação para o sonho. Este viajante nunca poderia ser um organismo orgânico, porque não havia comida na nave, e muito facilmente sucumbiria à paranóia do silêncio e da inexistência de contacto físico, tão característico e necessário nos animais. Seria um robô. Uma supra-inteligência que vagueava pelo espaço, de estrela em estrela, de planeta em planeta, à espera do Big-Crunch. Seria um viajante, construído à milhões de anos por uma espécie já extinta. Um viajante sobrevivente a alguns Big-Crunchs, e que existia com um único propósito: Repopular os planetas. Talvez dê um livro, e posso dizer que já o ando a escrever à algum tempo, mesmo antes de ter este sonho. Foi uma inspiração, não haja dúvida, mas também um momento muito estranho para o meu cérebro, para a minha personalidade e percepção daquilo que é a realidade, as memórias e os sonhos.


Um aparte:
Sonhos são uma outra dimensão "física". Quase como um "13º Andar".
Ou serão histórias criadas por nós, para ocultar o que realmente se fez do outro lado?
Outra teoria é a de que nos sonhos, todos nos juntamos.
Serão memórias de vidas passadas?
Talvez também uma maneira de manter o relógio biológico actualizado?

Fui capaz de dissecar o sentido emocional e psicológico de dois sonhos, e todos tinham uma razão. Todos me fizeram re-viver emoções ou aprendizagem, como acontece no dia-a-dia. Cada conversa, cada expressão, cada cena e cenário tinham uma razão psicológica de ser. Como já o disse: mostravam-me coisas que já tinha vivido, visto, ouvido, e situações de interacção humana.
Acredito que sirvam para nos ajudar a continuar a evoluir, errar e aprender. Servirão também para nos ajudar a compreender melhor um problema, visto que o nosso cérebro está mais imaginativo e mais activo durante os sonhos.
Não estamos a dormir, estamos a evoluir.
É também uma forma de treinarmos as nossas capacidades para lidar com situações de stress, violência, vergonha, saudade e felicidade. E podemos revivê-lo várias vezes, sem nunca morrer realmente.

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