quarta-feira, 8 de julho de 2015

O sofrimento do mundo...


"Se imaginarmos, tanto quanto for possível, a soma total de angústia, dor e sofrimento de cada espécie que vive na face da terra, teremos de admitir que  teria sido muito melhor se o sol tivesse sido capaz de produzir o fenómeno da vida na Terra em tão fraca quantidade como na Lua; e se, aqui como ali, a superfície fosse de uma calma cristalina." pág. 14 - nº 9 - Sobre o Sofrimento do Mundo de Schopenhauer

"Que a vida humana deve ser algum tipo de erro está suficientemente provado pela simples observação de que o homem é um conjunto de necessidades que dificilmente são satisfeitas; que a sua satisfação nada consegue a não ser uma situação indolor em que apenas cede ao tédio; e que o tédio é uma prova directa de que a existência em si mesma não tem valor, pois o tédio mais não é que a sensação do vazio da existência. Porque se a vida, por cujo desejo consiste a nossa essência e existência, possuísse em si um valor positivo e um conteúdo real, não existiria o tédio: a mera existência encher-nos-ia e satisfazer-nos-ia. Da forma como as coisas são, não temos prazer na existência a não ser quando estamos a lutar por alguma coisa - em cujo caso a distância e as dificuldades fazem com que o nosso alvo pareça satisfazer-nos (uma ilusão que se desvanece quando o atingimos) [...]" pág. 25 nº 5 - Sobre o Sofrimento do Mundo de Schopenhauer

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Ser morto é pior do que só morrer. Mas ser comido vivo é pior do que ser caçado à exaustão.
O ser humano, homo-sapiens, vive e desenvolve-se através de dois pontos que se afastam um do outro. O primeiro degrau é o amor/ódio. Imaginem uma linha cujo o amor e importância que damos ao caminhar se encontra no meio dessa linha, infinita ou não.
Num extremo temos o amor indescritível e incondicional que uma mãe tem por um filho no momento em que nasce; Do outro temos a falta desse amor - o ódio - em que um pai é capaz de tamanha atrocidade como o de espetar agulhas no corpo do seu filho recém nascido ou sufoca-lo com algodão.
O segundo degrau é a defesa do próprio eu através da razão ou pelas próprias mãos. Num extremo encontra-se a razão, que utilizamos cada vez que somos roubados e apresentamos queixa na policia, com a esperança de que o criminoso seja punido; No outro extremo temos a defesa dos nossos direitos pelas próprias mãos, em que se corta uma mão (ou algo pior) a um ladrão, violador e criminoso.
O ser humano, tal como todas as espécies que habitam neste planeta, vivem com um único fim: Serem felizes.
Respirar deixa-nos felizes. Saciar a sede, tomar banho, comer, correr, comunicar, viajar, passear, fazer sexo, deixa-nos felizes. Comprar é algo que se adquiriu à relativamente pouco tempo, graças à industria que controla o mundo através da Moda e das Tendências. Consumir deixa-nos felizes.
Mas esta felicidade não é duradoura. Não dura uma vida inteira. Tem de ser comprada, estimulada, exercitada e desenvolvida. Por essa mesma razão, não existe uma razão de existir, pois ser-se "feliz" não é mais que um conjunto de reacções químicas que nos estimulam o cérebro a lutar para nos mantermos vivos. São emoções, e emoções não são reais, são fabricadas. Esse é o núcleo do instinto animal! Sobreviver. Mas sobreviver é também por si um desejo das próprias células e dos vírus que as compõem. Sobreviver é desejar existir sem a vontade de verdadeiramente VIVER.
Poderemos dizer que de facto Vivemos; Que temos a sorte de poder apreciar a natureza do mundo com toda a sua vida que rasteja, caminha, voa e espalha as suas sementes. Mas esquecemo-nos de que não existe verdadeiramente uma razão de existir. Existimos porque tudo o que compõem este universo foi capaz de criar olhos para podermos ver o seu maravilhoso horizonte crescer e florescer.
A razão das coisas, desde o mais pequeno grão de areia ao maior sol, resume-se apenas a Ser. O que não é o mesmo que existir, pois existir implica interacção "sexual" que leva ao desenvolvimento, adaptação e evolução desse algo, seja astro-físico, seja animal; E a interacção é um acto de existir. Existir é, fundamental e unicamente: ser real, "palpável" e/ou observável.
Ser-se é tédio; Ser é a imobilização de si. Ser é "real" mas não tem valor quando trocado. A razão de Ser e de Existir é nula. Pois se nenhum de nós existisse, nada se perderia neste universo. Nem a sua magnitude se tornaria diminuta, ou os seus espectáculos cósmicos deixaram de se encher de cores exóticas.

A razão da nossa existência e o próprio sentido da vida, são imensuravelmente desvalorizáveis. A cruel verdade do nosso mundo humano, das nossas vidas, da nossa felicidade, do nosso amor, são facilmente embrulhadas como papel e deitadas ao fogo, pois tudo isso não é mais do que tentativas da nossa mente dar um sentido ao que nos rodeia. Queremos permanecer vivos, lutar pela "vida", porque os estímulos que recebemos nos são estranhos, nos fazem falsamente felizes. Todos os prazeres são reacções químicas que se transformam em amor. E o amor é, na sua essência, um desejo de sobrevivência; Quer da "coisa" pelo qual nos apaixonamos, quer de nós mesmos.
E as memórias não são mais que a exigência abominável, e imperceptível, que o próprio cérebro tem em se manter vivo. Não é permanecer "sã", mas vivo, a funcionar! A Existir, a Ser.
Ter e receber amor não é suficiente. Dar e partilhar muito menos. São tudo falsidades. São partidas que o próprio cérebro prega a si próprio. Pois se todos os animais tivessem amor por todos, inclusive as suas vitimas, deixariam de ser animais carnívoros ou herbívoros, pois até as plantas vivem numa paz tediosa em que apenas sobrevivem através da proliferação das suas sementes. Se os animais, tal como as plantas, não tiverem mais nenhum objectivo na vida do que simplesmente semearem-se, partilharem os seus genes, qual a sua razão de existir? Qual é o sentido da vida deles se não for apenas o de Existir? E porque haveríamos nós de ter o verdadeiro valor e significado da vida!? Porque haveríamos de ser egoístas ao ponto de nos acharmos melhores que outra coisa qualquer? Não somos deuses, somos átomos. Não temos verdadeiramente uma identidade, não somos realmente alguma coisa "interessante" até que o cérebro descubra e compreenda para que servem os pés, as mãos, a boca e as orelhas.

A própria felicidade de respirar, surge apenas na calma paisagem, onde o predadores não correm em direcção a nós e não precisamos de lutar pela nossa vida. Nesse único e mísero momento, vivemos a nossa existência. Existimos. Mas esse momento não dura muito tempo. Essa felicidade é efémera, pela simples razão de sermos obrigados a alimentarmos-nos. Logo aí, deixamos de apreciar as coisas, para preocuparmos-nos com elas ao ponto de não tirar os olhos do horizonte, o ouvido do vento e o nariz dos frutos venenosos ou comestíveis.
O próprio sofrimento, que pode ser observado e contabilizado através dos neurónios-espelho, quer através de uma ressonância magnética, pode ser medido.
Ao centro da linha de dois extremos, encontra-se a dor do respirar - o Zero. Num extremo, pela parte positiva, está o nascimento de um filho ou vê-lo cair da bicicleta, do outro está a dor que se sofre ao ver um filho ser atropelado ou bater-nos. A impotência, que surge pela incapacidade de controlar o mundo, as coisas e a nossa própria vida, faz nascer a depressão; E a depressão não é mais do que a revelação do degredo do mundo. Da crueldade e frieza. É nesse momento que a pessoa abre finalmente os olhos para a realidade da "morte" que a rodeia. Tudo é finito, feio e o que é bom acaba depressa. Não há prazer para sentir, não há amor para dar. Tudo deveria morrer. Nada é bonito e bom neste mundo.

O mundo existe, porque precisamos dele, porque interagimos. A simples razão, de um colecionador de pedras, nunca vir a encontrar uma pedra incrivelmente perfeita e sublime para a sua colecção, apenas e só porque esta se encontra inacessível no fundo do oceano, torna a existência daquela pedra tão naturalmente enjoativa e comum, nula. O colecionador não sabe que ela existe, e isso não lhe faz confusão. Mas é aí que entram os desejos insaciáveis do ser humano. Ele pode nunca vir a encontrar a pedra dos seus sonhos, a pedra do mundo, mas irá para sempre, até ao dia da sua morte, procurá-la em todos os cantos do mundo. E essa é fundamentalmente a razão de Viver. Não é sobreviver, é encontrar respostas às nossas perguntas.
Contudo, se nunca fizéssemos perguntas, não obteríamos respostas e o mundo não choraria por causa disso. O reino animal não entraria em colapso e o próprio planeta não se auto-destruía num apocalipse sem sentido.
O vazio, é a razão do universo.

"Depois da tua morte, serás o que foste antes do teu nascimento." pág. 54 nº 2 - Sobre o Sofrimento do Mundo de Schopenhauer

Não há nada mais bonito que a morte!


"Who are you? You are not you'r age, color, ethnicity. You'r not possessions, hobbies, believes. If you take away everything you have identify your self with: family, kids, everything; What would be left? who are you?" - Pig (2011)

"[...] we are like the widgets in a math problem, we only exist because of the question, beyond that we don't exist, we don't matter." - Loop (2007)

"Remember everything, for soon there will be nothing" - Desolate (2013)

Inicio: 28/06/2015

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