sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Adoro ouvir-te, ver-te e cheirar-te... [41]


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Adoro ouvir-te, ver-te e cheirar-te... [40]

A lixívia ardia-lhe nas narinas, provocando uma ligeira dor de cabeça que deixava os pêlos do braço levantados. O telemóvel vibrou no bolso, num zumbido que a assustou sem esperar. Era um cronómetro que exigia um código para desligar. Olhou para o assassino à sua frente e mais ao fundo da fábrica, vazia, viu uns plásticos formar paredes semi-transparentes de cor avermelhada. Pensou nos perigos que poderia correr e digitou o código de desactivação nos poucos segundos que lhe restava dos 60 que lhe eram concedidos. Era uma maneira de a manter segura ou de o condenar caso lhe acontecesse alguma coisa.
Aproximaram-se do plástico, e já a alguma distância, pôde distinguir o que parecia ser uma mesa com alguém deitado sobre ela. Ele entrou á sua frente e ela paralisou, ali mesmo, à entrada daquela sala improvisada. Uma câmara apontava para o corpo de uma rapariga da sua idade, ainda com roupas, e ao seu lado, quase como mesinha de cabeceira: uma mesa de material cirúrgico que proporcionava à vitima uma dose de calmantes para adormecer.
-- O QUE ESTÁS A FAZER!? -- gritou em pânico.
-- Não querias experimentar? Não querias que eu te mostrasse? Não querias testemunhar o prazer de tirar a vida de alguém com as tuas próprias mãos?
-- EU NÃO PEDI NADA DISTO! -- continuou, apontando para a rapariga que parecia acordar incomodada com os gritos histéricos. -- É MINHA AMIGA!
-- E? -- sorriu.
-- E!? - SOLTA-A! -- olhou-o. - JÁ! - exigiu, debruçando-se sobre os pulsos presos da amiga, já mais para lá do que para cá, num nervosismo que lhe descontrolava os dedos.
-- PÁRA! -- gritou de volta, agarrando-lhe nos pulsos. Atou-a a uma cadeira, deu-lhe uma mordaça e enquadrou-a no plano de uma segunda câmara. O espectáculo iria começar.

De olhos assustados, testemunhava o despir da sua amiga através de tesouras e facas, que rasgavam as calças e o sutien como uma faça quente em manteiga. As lágrimas apareceram finalmente no rosto avermelhado. Ele olhou para ela e sorriu, momentos antes de deixar o quase cadáver desprovido de roupa.
-- Lembraste do dia em que morreu a tua mãe e lhe  telefonaste a pedir para ir contigo ao funeral? Porque ela era a tua melhor amiga? E ela foi, só porque sabia que o teu ex-namorado ia também e comeram-se mesmo atrás da lápide, a poucos metros atrás de ti, enquanto lidavas com a angústia e sofrimento naquele momento em que vias o caixão sair do carro e pintar para sempre a visão macabra que um filho da tua idade jamais deveria ver. Foi ela quem te roubou o namorado. A alegria, as forças. Que te abandonou.
Ela olhou para ele com espanto e uma dor profunda em volta dos olhos de testa franzida. Percebeu que o questionava.
-- Como é que eu sei tudo isto? Eu estava lá. A tua mãe era uma grande amiga e ensinou tudo o que sei hoje sobre mulheres, sobre pessoas. Era uma psiquiatra incrivelmente talentosa. Mas ela? -- apontou para a rapariga despida. -- tirou-te tudo e nada te deu, no momento em que mais precisavas. Se desaparecer pelas minhas mãos, ninguém dará com ela. Queres saber como é? Toma. -- ofereceu-lhe a faca, mesmo sabendo que ainda estava amarrada. -- Não queres? Tudo bem. -- poisou a lâmina em cima da mesa e tirou o avental de plástico.
O seu telemóvel tocou e atendeu a chamada com um largo sorriso. Confirmou ir a algum lugar e olhou para Joana.
-- Já volto. Tenho de ir tratar de um assunto. -- piscou o olho.

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